Peço perdão. Sinceramente. Perdão, caro leitor por começar essa crônica, de certa forma... Falando mal de alguém. Falo de “X”, pessoa de minhas relações. Falo tranqüila, por que sei que ela provavelmente não lerá essa historiazinha. Afinal, ela nunca tem tempo para nada. Para ler essa crônica teria de contratar uma personal-leitora, que faria o serviço enquanto ela está na esteira. Ocorre que, visitou-me e após se retirar fiquei pensando sobre o quanto sua vida era sem sentido e desprovida de valor intrínseco. Pronto, falei! Cheguei a essa conclusão, após ela me contar sua rotina e de como é cheia de “personais”. E não falo de professores de educação física, isso é absolutamente ultrapassado, apesar de que, ela têm. Ela me relatara sobre os diferentes tipos de personal que precisara contratar para se encaixar no padrão que a sociedade estabelecera de uma mulher bem-sucedida.
Ufa! Só de escrever já fico cansada! Vocês já deduziram que ela é rica, ou pelo menos classe média alta... Esses luxos não se aplicam a nós, pobres mortais. A conversa iniciou-se com ela relatando-me que contratara uma “personal stylist." Contou-me que não tinha tempo de escolher as roupas que usaria no dia-a-dia e assim essa profissional, ia até sua casa, quebrava a cabeça montando os diversos trajes que ela usaria no mês e deixava tudo etiquetado e arrumado, com acessórios separados só para ela enfiar pela cabeça. Ainda por cima, comprava os itens que fossem necessários e adequava as suas medidas. Um sonho, né? Só que a “Personal stilyst” indicara uma “personal home”. Essa profissional, gabaritadíssima, pois, pelo seu relato, deduzi que era formada em curso superior, organizaria todos os armários de sua casa. Deixando tudo rotulado, separado e visível. Ou seja, acabaria com a bagunça do lar. Maravilhoso, não?
E por aí prosseguiu o seu relato. Contou-me que o filho ia muito mal à escola. Notas ruins, comportamento péssimo. Assim, contratara um “personal teacher” que ia até sua residência fazer as tarefas com o garoto e uma psicóloga. Que eu, com um toque de cinismo- não pude deixar de pensar, seria uma “personal mother”- para conversar com o garoto e descobrir o quê eu já deduzira: Ele estava carente de mãe. Presença física mesmo. Eu sei. Eu sei... Que estou sendo dura. Afinal, “x” trabalha muito e é uma referência no seu campo de atuação. Mas, comecei a achar que o preço disso tudo estava saindo muito caro...
Toquei no assunto e ela me falou que realmente, vinha gastando horrores, pois, na última semana tivera de contratar uma “personal Shopper”, para comprar os mantimentos no supermercado, produtos de limpeza e tudo o mais que fosse necessário para o bom andamento da casa. Afinal sua empregada (que não deixava de ser personal-maid) não podia fazer essas tarefas. E, para arrematar, contratara uma “personal dog”. Aí, eu assustei! Exclamei, “personal o quê?” e ela falou pausadamente: Dog. Essa profissional passa todos os dias em sua casa e leva os cachorros para passear. Além de uma vez por semana levar ao pet shop.
Despediu-se apressada, precisava remarcar o horário com sua “personal massagist” , que todos os dias passava em sua casa, levando uma maca portátil, para lhe aplicar uma massagem relaxante. Realmente. Era muita tensão! Senti-me uma roceira, mesmo! Quer dizer que para ter aquela aparência perfeita, carreira, marido, filhos exemplares, casa impecável, cachorros de revista, era necessário tudo isso? Será... Vamos raciocinar juntos, que não seria melhor ela simplesmente ficar um período no lar e ser um pouco mãe, dona-de-casa, etc. Relaxar cuidando de tudo o que lutara para construir. Quase sugeri isso, ainda bem que me contive! Com certeza ela me olharia horrorizada e me indicaria seu “personal analyst”. Esse último para fazer com que eu me enxergasse e enxergasse melhor o mundo em que eu vivo.
ELIANE BRITO, é escritora e advogada. eliane@rodovalho.com.br.
Ufa! Só de escrever já fico cansada! Vocês já deduziram que ela é rica, ou pelo menos classe média alta... Esses luxos não se aplicam a nós, pobres mortais. A conversa iniciou-se com ela relatando-me que contratara uma “personal stylist." Contou-me que não tinha tempo de escolher as roupas que usaria no dia-a-dia e assim essa profissional, ia até sua casa, quebrava a cabeça montando os diversos trajes que ela usaria no mês e deixava tudo etiquetado e arrumado, com acessórios separados só para ela enfiar pela cabeça. Ainda por cima, comprava os itens que fossem necessários e adequava as suas medidas. Um sonho, né? Só que a “Personal stilyst” indicara uma “personal home”. Essa profissional, gabaritadíssima, pois, pelo seu relato, deduzi que era formada em curso superior, organizaria todos os armários de sua casa. Deixando tudo rotulado, separado e visível. Ou seja, acabaria com a bagunça do lar. Maravilhoso, não?
E por aí prosseguiu o seu relato. Contou-me que o filho ia muito mal à escola. Notas ruins, comportamento péssimo. Assim, contratara um “personal teacher” que ia até sua residência fazer as tarefas com o garoto e uma psicóloga. Que eu, com um toque de cinismo- não pude deixar de pensar, seria uma “personal mother”- para conversar com o garoto e descobrir o quê eu já deduzira: Ele estava carente de mãe. Presença física mesmo. Eu sei. Eu sei... Que estou sendo dura. Afinal, “x” trabalha muito e é uma referência no seu campo de atuação. Mas, comecei a achar que o preço disso tudo estava saindo muito caro...
Toquei no assunto e ela me falou que realmente, vinha gastando horrores, pois, na última semana tivera de contratar uma “personal Shopper”, para comprar os mantimentos no supermercado, produtos de limpeza e tudo o mais que fosse necessário para o bom andamento da casa. Afinal sua empregada (que não deixava de ser personal-maid) não podia fazer essas tarefas. E, para arrematar, contratara uma “personal dog”. Aí, eu assustei! Exclamei, “personal o quê?” e ela falou pausadamente: Dog. Essa profissional passa todos os dias em sua casa e leva os cachorros para passear. Além de uma vez por semana levar ao pet shop.
Despediu-se apressada, precisava remarcar o horário com sua “personal massagist” , que todos os dias passava em sua casa, levando uma maca portátil, para lhe aplicar uma massagem relaxante. Realmente. Era muita tensão! Senti-me uma roceira, mesmo! Quer dizer que para ter aquela aparência perfeita, carreira, marido, filhos exemplares, casa impecável, cachorros de revista, era necessário tudo isso? Será... Vamos raciocinar juntos, que não seria melhor ela simplesmente ficar um período no lar e ser um pouco mãe, dona-de-casa, etc. Relaxar cuidando de tudo o que lutara para construir. Quase sugeri isso, ainda bem que me contive! Com certeza ela me olharia horrorizada e me indicaria seu “personal analyst”. Esse último para fazer com que eu me enxergasse e enxergasse melhor o mundo em que eu vivo.
ELIANE BRITO, é escritora e advogada. eliane@rodovalho.com.br.