terça-feira, 4 de agosto de 2009

“OPERAÇÃO CHUPETA”

Era um final de tarde domingueiro. O dia transcorria lento e pachorrento como deve ser. De repente, minha filha, batendo a mão na testa, exclama: _ Nossa, havia esquecido, preciso fazer uma “chupeta”! Eu atônita, repeti a palavra com ar inquiridor. “Chupeta”? Ela sorrindo, explicou que, quando saíra de um barzinho na noite anterior e fora pegar o carro no estacionamento, descobrira que deixara as luzes ligadas e “arriara” a bateria. Portanto, seria necessária uma chupetinha (que é uma espécie de carga na bateria), para que a mesma voltasse a funcionar. Ela falava com propriedade, como quem domina totalmente os jargões das oficinas mecânicas. Inquiri sobre quem havia lhe ensinado aquilo e ela relatou que os funcionários do bar haviam lhe explicado. Achei o nome interessante, poderia ser título dessas operações da Polícia Federal.
Concordei e seguimos para o estacionamento do bar. Ao chegarmos, ela decididamente se dirigiu a fila de táxi estacionada e perguntou se algum dos motoristas tinha os apetrechos necessários para recarregar a bateria. Percebi que eu era a única pessoa ali que nunca havia ouvido falar sobre tão famoso procedimento. Ainda mais, com essa expressão...“ Chupeta”. Todos respondiam com naturalidade e não estranhavam a palavra. Por ironia e para reforçar o inusitado da situação, se aproximou uma mulher, identificando-se como taxista, prontificando-se para fazer o serviço. Com ar sério falou: _Olha, eu vou te cobrar só trinta pela chupetinha. Está bom pra você? Minha filha concordou. Estava precisando do carro. Eu confesso que achei caro. Parecia exagerado. Pelo que eu havia entendido, era um método relativamente simples.
Dirigimos-nos para o veículo, a taxista com dois fios grossos nas mãos. Um vermelho e outro azul. Logo atrás eu, conduzindo meu carro, que seria primordial para o sucesso da operação. Encostei o veículo perto do dela, abrimos os capôs e quando se preparavam para conectar os fios ligando as duas baterias, surgiu uma nova dúvida. A taxista exclamou: _peraí, qual fio é o positivo? Mais uma vez, exclamei, já rindo e achando a situação cada vez mais divertida. “Ah, então tem positivo ou negativo?” Eu heim...
Aí, como só acontece no Brasil, um senhor que passava e não tinha nada a ver com a história, se aproximou. Decididamente, falou: _tenho certeza que o fio positivo é o vermelho, o negativo é o azul. Nisso se materializa um outro homem e exclama: _Êpa, tenho certeza absoluta que é o contrário! Pronto. Em quem confiar... Todos sacamos dos celulares ao mesmo tempo. Ligações feitas, as informações continuaram contraditórias. Fiquei olhando, com ar desalentado aquele pequeno grupo que já se reunia próximo aos veículos, sem titubear mais, perguntei? _ O quê acontece se ligar o fio errado? Explode tudo? Ao que me informaram que não acontecia nada. Simplesmente não funcionava. Com uma sabedoria extraída de anos a fio, assistindo filmes de ação, falei: _liga o azul, pelo menos para desarmar bomba, sempre funciona. Esse fio vermelho, não vai dar certo não... O debate se acalorou. Eu, já levemente irritada, observando minha tarde de domingo se esvair, pus fim à questão: _É o seguinte, minha bateria já está arriando! Ou vocês fazem essa chupetinha logo ou vou embora, descobre aí, qual o positivo ou negativo da “repimbela da parafuseta”, antes que eu perca a paciência... Os fios foram conectados, até agora não sei qual cor acionava o quê. Acho que o positivo era o vermelho. O carro como que por mágica, funcionou. O ronco suave do motor ecoou no entardecer. Todos sorriem aliviados. Operação “chupetinha” concluída.

ELIANE BRITO, é escritora, advogada, autora do livro “Do Pequi ao sushi-Crônicas de viagens”. Saraiva. eliane@rodovalho.com.br

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