quarta-feira, 23 de setembro de 2009

FLORESÇA E PROSPERE


Como é bela essa palavra: florescer. Quando a falamos nossos olhos brilham, mentalmente visualizamos (pelo menos eu...) um botão de flor se abrindo... Um jardim multicor expandindo e dominando a paisagem, etc... Foquei minha atenção a esse verbo, em como ele é sonoro e forte, em como nos remete à ação (essa teoricamente a característica de todos os verbos). Comecei a estudar sobre isso na Cabalah. Pronuncia-se cabalá, com a última sílaba bem forte e um dos ensinamentos que aprendi foi que: Toda palavra tem poder. Toda palavra, cria essa alteração mental que nos remete a um local, um objeto, uma sensação, que podem criar a nossa realidade. É um ensinamento profundo, que precisa muito mais do que ser compreendido, ser sentido com todo o nosso corpo. Após minhas práticas de meditação, comecei a exclamar em voz alta, palavras diferentes, para ver o efeito que produziam. É inevitável, palavras andam acompanhadas de imagens, não tenho dúvidas. Entretanto, quando exclamei: Florescer! A imagem que me veio à mente foi a de uma pessoa feliz, correndo por um campo de margaridas amarelas...
Percebi que a natureza e os objetos inanimados, só ganham sentidos quando fazem as pessoas felizes. Quando nós seres humanos, podemos desfrutar de sua beleza. Quando nos trazem alegria. Como foi bela essa imagem mental que criei! Na verdade quem florescia eram as pessoas, não as flores. Quem florescia era aquele ser humano, que caminhava livre e de peito aberto pelo mundo. Comecei a perceber como tornamos difícil o nosso eclodir. Simplesmente por que muitas vezes nos sentimos ridículos, com todos os impedimentos e suposições negativas que criamos ou que permitimos que criem em nossas vidas. Vejo que é necessário fortalecer e reforçar nossas convicções em nossos ideais. Acreditar em nossos sonhos e fazer o melhor. Temos de ser o paciente jardineiro que caminhará por entre as alamedas de “nãos”, pelos labirintos de “impossível” e exclamará tal qual um mágico que carrega poderes ocultos. Floresça! Zás.
Outro ensinamento maravilhoso que extraí do estudo da Cabalah, foi que tudo que existe em nosso mundo é composto de somente uma matéria prima: Luz. Sem a luz nada existiria e as coisas só existem quando vêem a luz. O mito da caverna de Platão explica um pouco isso. Que o fato de nos mantermos no escuro, nos impede de tornar as coisas reais. Compreensíveis. A luz é tão importante... Usando um exemplo bem tosco: estou construindo uma casa e no mesmo dia em que meditei sobre a importância da luz, a arquiteta responsável pela obra, me disse a seguinte frase: _Não economize em luz! Invista! Luz é tudo e pode fazer sua casa muita mais bela. Aproveitando essas palavras poderosas e transportando para nossa vida, percebo a importância de sermos iluminados. De deixar que as luzes que nos cercam, venham do universo, venham de nossos semelhantes, nos iluminem e nos permitam florescer. Tomei então a seguinte resolução. Quando perceber que alguém está tentando destruir o meu jardim, apagar a minha luz ou coisa semelhante, direi SIM. Sim as minhas vocações, sim aos meus sonhos, sim as minhas vontades e correrei livre em meio ao meu campo de margaridas mental.
Os talentos e as aptidões que cada um ostenta são únicos e intransferíveis. Quando alguém tentar retirar, o que é meu, de minhas mãos, responderei: “São meus e só eu posso transportá-los. Carregue os seus dons, distribua os seus tesouros, compartilhe e deixe que eu faça o que preciso fazer.” Assim, quando os outros me virem prosperando, ignorarei seus rostos apáticos e vazios. Essas expressões são autênticas em quem não permite que o seu melhor aconteça e apareça para o mundo. Alguns acham que a vida é tenebrosa. Que nada é possível, que o planeta é um lugar áspero e sem luz. Que somos criaturas das trevas. Preste atenção. Se você compartilhar o seu melhor, sua vida se encherá de esperança e lhe trará a vitória em tudo que fizer. Assim, concluo para mim e para você: Floresça e Prospere!
ELIANE BRITO é Cronista, Escritora e Advogada. eliane@rodovalho.com.br
Publicado no DM de sábado, 19-09-09.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

BOA AMIGA...


Quando me afasto em meu carro dourado, quase posso ouvir o suspiro dúplice, de alívio e de tristeza que ela exala. Pilotando meus sapatos de bico fino, ostentando algumas pérolas e a indefectível bolsa vermelha, retirei-me, não sem antes deixar flanando pelos ares o aroma do perfume francês.
Minha loucura é tudo aquilo que me impele para longe. Quando cheguei para essa visita, pressenti que ela não queria minha presença ali, quando me retirei, podia sentir em seus lábios o pedido para que ficasse. Porém, não poderia me estender mais, minha missão estava completa. Conseguira retirá-la duma redoma de dor e trazê-la de volta à mediocridade do dia-a-dia, melhor dizendo, aos afazeres banais que compõem nossas vidas. Entregara uma mensagem louvando a existência e suas transformações. Louvando o fútil, que incorpora noventa por cento de nosso dia-a-dia. Com minha presença lhe lembrara de negócios, leis, política, trivialidades e um pouquinho de sexologia. Assunto que não pode faltar em nenhuma conversa que se preze. Assim, a catapultara de seu mundo de deveres e correção. Senti que ela se fortalecia com minha presença. Nossos antagonismos em estilos de vida a levavam a louvar cada vez mais suas escolhas, a dignidade de todos os seus caminhos.
Eu me desdobrava no papel de anti-heroína. Ação que desempenho a perfeição. Minhas atitudes fazendo o contrabalanço perfeito com sua simplicidade espartana. Seu mundo se restringia aos livros, aos grandes debates, aos filósofos e suas contradições. Os dedos manicurados voando pelos ares, em contraponto com suas mãos, desnudas e sem grandes cuidados. Tenho certeza de que minha figura a lembrara de todas as coisas das quais ela não necessita: jóias, perfumes, festas, massagens, maquiagens, viagens. Todo o universo que envolve a vida de uma mulher mimada e cheia de manias. A visita se desenvolvia e ela se sentia cada vez melhor.
Observava-me, sem saber que entre luz e sombras, também existem coisas bonitinhas que eu defendo com unhas e dentes, como dignidade, justiça, caráter, etc. Mas essas eu não queria lhe mostrar. Não lhe interessavam naquele momento. Pensando nessa nossa amizade improvável, porém, tão bonita debaixo dos raios do sol, fiquei ali lhe admirando... A impetuosidade versus a correção. O orgulho versus a humildade. Parecia estranho, mas se complementavam e tornavam esse mundo estranhamente perfeito. E às vezes esses sentimentos se transmutavam de lugar. Oscilavam entre mim e ela. Principalmente o orgulho. Esse o norte de suas ações e também das minhas. Afinal, todos defendem suas preferências. Isso é inerente ao ser humano. Minha boa amiga, tão bonita e ao mesmo tempo tão frágil em sua simplicidade.
Sentindo o peito apertado percebo que é hora de partir. Os sinais são claros. Seus olhos já estão brilhantes, sua fala rápida, suas idéias efervescentes. Já destruíra todas as suas defesas. O vulgar tem esse poder. À custa de muito esforço abrira algumas fissuras em sua armadura, afastando a depressão e permitindo que o sol entrasse em sua vida. Você, minha boa amiga, até cogita surpresa e espantada sobre a hipótese de ter algo em comum comigo. Isso reinventa sua rotina e traz um pouco de magia. Assim, me afasto, não sem antes dar um leve tropeção, o salto se enganchara em uma pedra. Esse o único ponto destoante de uma visita perfeita.

ELIANE BRITO, é escritora, cronista, advogada. eliane@rodovalho.com.br