quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Filmes que eu vi...

Nesse feriado do carnaval, assisti a dois filmes interessantes. O primeiro, "Quem quer ser um milionário?"de Danny Boyle, conta a história de um indiano que participa de um concurso tipo, "Show do milhão", ganhando o prêmio final. O legal é como ele consegue acertar todas as respostas. Mas, tenho de confessar...No início do filme têm um cena que é chocante, repugnante mesmo. Dá vontade de ir embora do cinema. Aguentei, fiquei até o final e acabei achando interessante. O segundo filme que assisti foi do Jim Carrey: "Sim, senhor". Sabe que esse filme me fez pensar mais que o outro? Apesar de ser uma comédia, fiquei meditando sobre o poder do "sim" em nossas vidas. Em como essa simples palavrinha pode fazer toda a diferença.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Será o fim da impressão?



Os livros surgiram no mundo há mais de 1800 anos, confeccionados em papiros e outros materiais. No séc. XIII Gutenberg inventou a imprensa e essa forma de conhecimento, restrita a poucos, disseminou-se para toda a população. Agora, novamente eles se reinventam, é a revolução dos livros eletrônicos. Seguidos pelos dowloads pela internet. O que escritores do mundo inteiro se questionam é: como será o formato do livro do futuro? E ainda mais, como se dará a leitura nas próximas décadas? Essa discussão inclui também jornais e revistas.
Tenho de admitir que, se eu tivesse uma lista de desejos, sem dúvidas o “número um” seria um Kindle. Esse pequeno livro portátil, capaz de armazenar até um mil e quinhentos títulos é o sonho de consumo de uma leitora voraz como eu. As vendas têm mostrado que os jovens do mundo inteiro já aderiram ao artefato eletrônico, provando mais uma vez que essa geração é extremamente digital. Desde que eu me entendo por gente, quando militava no movimento estudantil, o discurso era sempre o mesmo: _O jovem não lê, por que o sistema ditatorial tinha interesse em deixá-lo o mais alienado possível... Blá blá blá... Agora, qual seria a desculpa para não se ler? A evolução eletrônica tem mostrado que o jovem tem lido sim. E muito.
No Brasil, uma grata surpresa para o governo foi o número de acessos ao site do MEC, “Domínio Público”, que disponibiliza mais de mil títulos. Os ingressos já ultrapassam os seis milhões. Essa biblioteca virtual está provando que o brasileiro não lê, não porque seja alienado e sim, por questões econômicas mesmo. Quando se disponibiliza o conteúdo grátis de uma publicação pela internet, o incrível número de visitantes mostra que as pessoas têm sede de conhecimento. Mas, o líquido do saber estava muito caro.
A tendência pela leitura eletrônica é foco de discussões em todo o mundo. O famoso jornal “The New York Times” teve de ser socorrido pelo governo americano, pois as vendagens caíram vertiginosamente devido ao grande número de acessos pela internet. O que prejudicou a venda dos jornais impressos. Na última feira do livro em Frankfurt, os debates mobilizaram todos os escritores. Como preservar os direitos autorais com o crescente número de dowloads de obras pela rede mundial? Nos sites oficiais, os direitos autorais são garantidos, pois, quando se baixa o conteúdo, automaticamente já se recolhe a parte do autor. É um caminho seguro e uma tendência. O problema é a pirataria, difícil de ser combatida. Para os outros meios de comunicação como jornal é fácil, basta se aderir as assinaturas digitais.
Todas as vezes que surge algo novo as pessoas se alarmam e disseminam o terrorismo psicológico. Não é o fim do papel impresso não... Para responder a esse questionamento basta observar. Por acaso a internet acabou com a televisão? Os DVDs acabaram com os cinemas? O tradicional tem seu valor agregado. A experiência de se deitar em uma rede, em um dia chuvoso, com um livro gostoso nas mãos, para horas de puro relaxamento é indescritível. O velho sistema tem sua magia... Porém, a palavra de ordem dos novos tempos é adaptação. Precisamos nos adaptar para evoluir. Sem abrir mãos de formas alternativas de leitura.
Papel, definitivamente está se tornando “démodé”... Esse é um aspecto positivo dessa revolução. O bem que se faz ao meio ambiente. Menos árvores serão derrubadas para a produção de livros, jornais e revistas, o que é uma forma inteligente de contribuirmos para a preservação do planeta. Vivemos a era da disseminação do conhecimento, de forma rápida, eficaz e sustentável.
Já dizia minha mãe: “Árvore que não cresce, não dá sombra”. Quem lê é como uma árvore frondosa e enraizada. Dá uma sombra gostosa, gera frutos e torna o mundo melhor. Ninguém poderá deter esse processo de disseminação e popularização da cultura. Ainda bem!

ELIANE BRITO, é escritora, advogada e cronista. Autora do livro: “Do pequi ao sushi- Crônicas de viagens”. eliane@rodovalho.com.br

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O que estou lendo?

"Chama-se "Homem comum" de Philip Roth. Ele fala sobre o processo de envelhecimento, doença e morte. O autor cria um personagem fantástico, um publicitário sem nome. O livro fala das fragilidades de nosso corpo e do medo da morte. Estou lendo também (acabando, últimas páginas...) de Stephenie meyer, "Crepúsculo". Esse não preciso nem explicar né? É a história daquele vampiro bonitão que está em todos os cinemas. Leio a Bíblia todos os dias, salmo 144 e o Gita, esse meu livro de cabeceira atualmente.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um pouco de Poesia...


SONETO LXXXVIII

Quando me tratas mau e, desprezado, Sinto que o meu valor vês com desdém, Lutando contra mim, fico a teu lado E, inda perjuro, provo que és um bem. Conhecendo melhor meus próprios erros, A te apoiar te ponho a par da história De ocultas faltas, onde estou enfermo; Então, ao me perder, tens toda a glória. Mas lucro também tiro desse ofício: Curvando sobre ti amor tamanho, Mal que me faço me traz benefício, Pois o que ganhas duas vezes ganho. Assim é o meu amor e a ti o reporto: Por ti todas as culpas eu suporto.


William Shakespeare



POR UM MUNDO SEM DROGAS!

Já havia se passado quase dez anos. Mas, parecia que foi ontem. Olhando a cena que se repetia, lembrei-me vividamente da primeira vez que havia ingressado em uma delegacia, na condição de advogada, para liberar um preso. Agora estava ali novamente. Com a mais cruel das missões. Comecei a recordar, eram aproximadamente duas horas da manhã e a mãe, desesperada, havia me ligado na madrugada solicitando meu auxílio. O filho de dezoito anos, que eu havia visto crescer, fora preso por porte de drogas. Era amiga da família o que tornava minha tarefa mais dura. Identifiquei-me e entrei na sala do delegado. A cena me chocou um pouco. X, de cabeça baixa, arfante, algemado, com o rosto muito vermelho, estava sentado no centro da sala. Sem camisa, descalço, com alguns vergões pelo rosto, ladeado por dois PMs, que muito nervosos, falavam alto e relatavam o ocorrido ao delegado.
Pedi calma, aproximei-me de X e o tranqüilizei. Levantei sua cabeça para que me olhasse, mas, ele desviou a vista. Era o retrato da humilhação. Olhando algumas marcas em seu rosto perguntei? _Você apanhou? Nesse momento todos olharam em silêncio para mim. Quem respondeu foi um policial: _Ele reagiu doutora! Agrediu-nos com socos e pontapés. Eu respondi apenas. _A lei não o autoriza a espancar ninguém.
Ele havia sido preso na saída da escola, aproximadamente dez e meia da noite. A polícia o prendera e mais dois colegas, depois de uma investigação prolongada que demonstrara o envolvimento com drogas. Conversei com X que me garantiu que não traficava, só era usuário. Quem traficava era um sujeito denominado “gordinho”. Na hora da prisão portava apenas um cigarro de maconha e nada mais.
Sentei-me e comecei a conversar com o delegado no sentido de impedir que fosse lavrado o flagrante. Naquela época, o usuário era apenado severamente. Não era como hoje, onde só se participam de alguns cursos educativos. Resolvi tentar sensibilizar o delegado. Comecei a rememorar a vida de X. Falei do carinho com que fora criado, estudara nas melhores escolas, crescera com todo amor e cuidados. Era um rapaz bem preparado. Estudara inglês, informática. Sua família tinha uma reputação ilibada, sendo considerada referência na sociedade, com um sobrenome bastante conhecido.
Enquanto relatava, tive de me conter para não chorar. Lembrei-me de X, com dez anos de idade, andando de bicicleta, correndo alegre e faceiro como toda criança. Lembrei-me de suas doenças infantis. Da preocupação e do cuidado dos pais, que o cercavam de todos os carinhos. Lembrei-me de minha amiga, sua mãe, preparando os pratos prediletos que ele gostava. Comecei a sentir uma grande revolta e indignação. Simplesmente não entendia como tanto amor fora se transformar naquela cena que eu via ali na delegacia.
Argumentei das consequências de uma ação penal na história do jovem. Que ele levaria essa marca indelével por toda a vida. O delegado estava irredutível. Disse que estava de campana a mais de duas semanas e lamentou que na hora que efetuaram a prisão ele portava uma pequena quantidade. Como último recurso, pedi que deixasse a mãe do rapaz ingressar na sala para vê-lo. Ela entrou com o rosto transtornado pelas lágrimas. Aproximou-se e abraçou X, que virou o rosto e falou apenas. _Saí daqui mãe! Eu não quero que a senhora me veja assim... Ela apenas lamuriou, como uma mãe faz sobre um filho morto: _ Oh! meu filho! O que aconteceu com você? Por que você fez isso? X, ouvindo isso, limpou uma lágrima que teimou em cair e de queixo erguido desafiante exclamou novamente: Mãe fica lá fora!
Após essa cena, o delegado perguntou se a família concordava em colocar o rapaz em uma clínica de recuperação de drogados. Eu firmei o compromisso de pessoalmente interná-lo em uma casa de saúde em São Paulo. Como as provas realmente eram insuficientes, finalmente, aproximadamente quatros horas da manhã, consegui sair da delegacia, levando X a tiracolo. A mãe se aproximou de mim e com um longo abraço me agradeceu. Aquele abraço foi o mais triste que já recebi na minha vida. É o abraço que nenhuma mãe deve dar. De alivio, mas também de dor, humilhação e desespero.
Hoje graças ao apoio da família e dos amigos, X está totalmente recuperado. Casado, pai de dois meninos, vivendo uma vida normal. Mas, muitos não têm esse final feliz... Muitos ficam reféns das drogas a vida toda. Caídos em um poço profundo onde nada pode salvá-los. Muitas vezes, nem todo amor do mundo pode impedir que a pessoas se autodestrua. O barato das drogas deixa cicatrizes profundas. Todos sofrem. O viciado, os pais, os familiares e o advogado. Não se pode ignorar o trauma e a impotência provocados pela droga. Precisamos lutar contra esse mal com as armas que temos: Informação, educação e amor, muito amor... Esse sim, o construtor de todos os recomeços.


ELIANE BRITO, é escritora, advogada, autora do livro: “Do pequi ao sushi- Crônicas de viagens.” eliane@rodovalho.com.br. Publicado no Jornal DM do dia 15/02/2009.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O SINUOSO DA VIDA


Escrever... Muitos veem (sem acento) como arte, vejo como fatalidade. Uma espécie de predestinação. O Escritor nasce com essa compulsão, interpretar o mundo, as pessoas, os acontecimentos, entregando sua verdade e percepção para os seus semelhantes. O processo criativo se inicia muitas vezes com uma frase perdida em meio a uma conversa, com um flash do cotidiano. Desencadeia-se então, todo um procedimento levando a produção da crônica ou artigo. Essa idéia, ou “insight”, muitas vezes fica martelando por dias a nossa mente. Até que, exauridos, assentimos e dizemos: _Tudo bem! Vou entregar a mensagem! Porém, esse processo não é tão simples... Para isso, precisamos usar uma simbologia, chamada linguagem, para adequar nosso fluxo mental a um padrão inteligível para as outras pessoas... Aí é que começa o problema.
Muitos têm criticado essa reforma na Língua Portuguesa. E eu tenho que concordar com alguns aspectos. Por exemplo: Será que se traduzirmos (esse é o termo), um clássico, como Dom Casmurro, obra-prima de Machado de Assis, para os padrões linguísticos modernos, ele não se perderia? A obra não ficaria afetada em sua essência? Será que no momento que eu tento enquadrar o meu fluxo racional a um padrão que eu desconheço e que me exige todo um reoordenamento psicológico, eu não corro o risco de me perder? De simplesmente, não conseguir entregar a mensagem?
O Poeta Cristiano Siqueira, traduziu bem essa inadequação em seu poema “Amor e Técnica”. Diz assim: “Não sei se é bom ou ruim o que escrevo. Tanto não sei se é bom ou ruim ser eu mesmo. Minha escrita não procura por palavra serta. Nem percebe no verso qualquer arritmia. Meu verso é sina e me percorre nas veias o sinuoso da vida...” Com certeza todos compreenderam quando ele disse: “ Não procuro palavra serta...” Esse trocadilho inteligente nos mostrou que o mais importante é conseguirmos traduzir a ideia, o sentimento, sem se ater a formas gramaticais rígidas.
Essa reforma ortográfica nos exige todo um enquadramento linguístico (sem trema), que tolhe a criatividade e a espontaneidade. Criar é ser impulsivo, é revirar a mente até que surja a idéia nova, que vai germinar e renascer como uma visão particular do mundo. Simplesmente, utilizando os padrões que aprendemos desde a nossa infância e que já se incorporaram no nosso inconsciente.
A impreensão que fica é que, na sede de renovar, modernizar, a humanidade se atropela e altera modelos basilares, como nossa língua, atingindo o que temos de mais precioso. Compactuo com a resistência a mudança. Defendo que a língua deve apenas incorporar o novo, a palavra falada na rua. Não suprimir. Não se restringir para adequar a um ser humano que se diminui cada vez mais em sua escrita e em sua mente. Uma humanidade que está limitando seus códigos lingüísticos e a expansão mental que eles trazem.

ELIANE BRITO, é escritora, cronista, advogada. Autora do livro “Do pequi ao Sushi, crônicas de viagens.” eliane@rodovalho.com.br . Texto publicado no dia 05/02/2009 no jornal DM.