sábado, 22 de agosto de 2009


Candidato ficha limpa

21/08/2009
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Tenho mania de fazer listas. Todos que me conhecem sabem disso. Dias atrás, certo amigo comentou comigo que existe um movimento em crescente ascensão na internet e também na sociedade para se votar somente em políticos que apresentem uma ficha limpa. Imaculada. Nenhum deslize no currículo, nenhum processo nas costas. Rapidamente, respondi, com um tom de ironia na voz: –É justo! Afinal, para se governar um povo ordeiro, cumpridor das leis, metódico como o brasileiro, isso é essencial.Sinceramente, utopicamente eu acho a ideia perfeita; porém, não sei se na prática esse candidato com postura europeia sobreviveria em solo tupiniquim. Esse ser primoroso que queremos eleger será (em uma versão melhorada do dito popular): “a vestal em meio ao bordel”. Certamente, teria grandes dificuldades para sobreviver em nosso meio político. Mas vamos lá! Vou fazer um exercício de abstração e apresentar a vocês as qualidades de meu candidato ideal: 1. Justo; 2. Leal; 3. Bom desportista; 4. Honesto; 5. Tolerante; 6. Compassivo; 7. Benevolente; 8. Educado; 9. Digno; 10. Carismático; 11. Amoroso; 12. Bonito (não abro mão desse item, se os americanos conseguiram, nós também podemos); 13. Inteligente; 14. Graduado em curso superior ou com uma boa formação; 15. Bom administrador; 16. Pai de família; 17. Defensor dos animais; 18. Defensor do meio ambiente e por aí vai. Quando cheguei nesse ponto, desisti... Percebi que nem Jesus Cristo se enquadraria nessa lista. Afinal, ele não era casado, item que para mim é essencial, pois demonstra certa estabilidade, solidez. Sei que esses critérios são polêmicos e questionáveis, mas é o que me ocorre no momento.Aí, resolvi fazer uma lista contrária, pequenos defeitos que seriam toleráveis, mas que para mim são essenciais para entrar na minha classificação “Cara gente boa”, são eles: 1. Beber uma de vez em quando; 2. Beber duas quando for preciso; 3. Falar um palavrão bem cabeludo quando irritado; 4. Andar despenteado e sorridente quando for necessário; 5. Chupar chicletes escondido, só pra lembrar a infância; 6. Dormir em meio a uma solenidade chata; 7. Soltar flatos como qualquer mortal (mas, dentro do banheiro do gabinete e aspergir bom ar, que ninguém merece!); 8. Mandar aquele chato, que sempre o desacata, pra PQP (afinal, ele não tem coração de barata!); 9. Viajar nas férias para a praia e ficar o dia inteiro coçando o saco e pensando em bulhufas. 10. Beijar a mulher apaixonadamente sem se importar com as câmeras. 11. Chorar diante de uma injustiça; 12. Decretar uma medida sem previsão orçamentária, porém, que beneficie milhões de famílias...De repente, entendi o que eu estava buscando com esse artigo. Eu procuro um candidato que seja humano. Que seja gente. Pode até já ter falhado. Fumado maconha sem tragar, copulado usando um charuto... Mas, eu tenho de sentir que ele é uma pessoa de verdade, alguém que valha a pena! Que erra, que acerta, entretanto, que consiga arrancar de mim um perdão instantâneo. Já dizia o bom e velho Ernest Hemingway, “Jamais faça negócios com quem não bebe uma dose de uísque.” Devo confessar que tenho pânico de gente “certinha demais”. Resumindo, tenho de sentir, que ele é o tipo do cara que eu convidaria pra uma festinha lá em casa.
Eliane Brito é cronista, escritora e advogada (eliane@rodovalho.com.br)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

TENHO MEDO DO COLLOR!


Ai! Que canseira! Assistindo aos noticiários televisivos surge o palco do senado, em cena, dois titãs se digladiando. De um lado, o Ex-presidente da República, Fernando Collor, de outro, engrossando o “bate-boca”, O Sen. Pedro Simon. Além de sentir medo (é claro, com a carranca e o olhar maligno do ex-presidente), senti um desânimo tremendo.
Sabe aqueles pesadelos recorrentes? Quando você acha que o sonho acabou e no dia seguinte, sonha tudo novamente. Collor, assim como fênix ressurge das cinzas. E pensar que eu fui uma das “caras pintadas”. E pensar que eu fui um dos milhares de brasileiros que pediram o impeachment desse homem? De que adiantou? Pergunto cá com meus botões...
Os mesmos personagens se revezam no palco do poder. Somente em posições diferentes. De um lado o Presidente Lula, de outro Collor, em contraponto Sarney. Se fosse um jogo de xadrez, a diferença seria a função de cada peça. O peão virou rei, O rei virou bispo e por aí vai. Parece-me que o Sen. Collor se fechou, protegeu-se dos golpes e agora, que se sente curado, coloca as garras de fora. Mostra a verdadeira face que estava embutida, cheia de ódio, rancor e ameaças. Tenho pena dos brasileiros, que o reelegeram. Tenho pena também do próprio Collor, nem sua tragédia pessoal foi capaz de mudar sua natureza. Dizem que as pessoas mudam, mas, aí está a prova cabal de que toda mudança exige antes de tudo, um pequeno milagre. De vontade e transmutação.
Isso tudo me recorda uma história contada por Buda. Relata o iluminado que um monge que o servia, certo dia encontrou uma cobra ferida na floresta. Levou-a ao acampamento, cuidou da mesma com todo carinho, alimentou-a. O réptil reagiu, ganhou força, saúde. Certo dia, o monge decidiu que chegara a hora de reintroduzi-la no bosque. Coloca a serpente em uma caixa e a solta no meio do mato. Quando a cobra se afastava, sob o olhar atento do monge, de repente, retorna e o ataca no calcanhar. O monge regressa ao acampamento machucado, chateado e indaga do iluminado sobre o motivo dessa atitude do ofídio. Buda apenas responde: “Você foi fiel a sua natureza, que é a compaixão, a cobra foi fiel à natureza dela, que é o ataque. Não se pode mudar a natureza das coisas.”.
Penso que nosso querido Presidente Lula, tal qual o monge da história, acolhe Collor em seu regaço. Abre-lhe a portas do palácio, cura seu ferimento, o afaga. A única diferença é que não sabemos qual a sua verdadeira motivação. Tenho Medo. Penso que Presidente pode sair ferido. Nós brasileiros já estamos.


Eliane Brito é cronista, escritora e advogada. eliane@rodovalho.com.br

terça-feira, 4 de agosto de 2009

“OPERAÇÃO CHUPETA”

Era um final de tarde domingueiro. O dia transcorria lento e pachorrento como deve ser. De repente, minha filha, batendo a mão na testa, exclama: _ Nossa, havia esquecido, preciso fazer uma “chupeta”! Eu atônita, repeti a palavra com ar inquiridor. “Chupeta”? Ela sorrindo, explicou que, quando saíra de um barzinho na noite anterior e fora pegar o carro no estacionamento, descobrira que deixara as luzes ligadas e “arriara” a bateria. Portanto, seria necessária uma chupetinha (que é uma espécie de carga na bateria), para que a mesma voltasse a funcionar. Ela falava com propriedade, como quem domina totalmente os jargões das oficinas mecânicas. Inquiri sobre quem havia lhe ensinado aquilo e ela relatou que os funcionários do bar haviam lhe explicado. Achei o nome interessante, poderia ser título dessas operações da Polícia Federal.
Concordei e seguimos para o estacionamento do bar. Ao chegarmos, ela decididamente se dirigiu a fila de táxi estacionada e perguntou se algum dos motoristas tinha os apetrechos necessários para recarregar a bateria. Percebi que eu era a única pessoa ali que nunca havia ouvido falar sobre tão famoso procedimento. Ainda mais, com essa expressão...“ Chupeta”. Todos respondiam com naturalidade e não estranhavam a palavra. Por ironia e para reforçar o inusitado da situação, se aproximou uma mulher, identificando-se como taxista, prontificando-se para fazer o serviço. Com ar sério falou: _Olha, eu vou te cobrar só trinta pela chupetinha. Está bom pra você? Minha filha concordou. Estava precisando do carro. Eu confesso que achei caro. Parecia exagerado. Pelo que eu havia entendido, era um método relativamente simples.
Dirigimos-nos para o veículo, a taxista com dois fios grossos nas mãos. Um vermelho e outro azul. Logo atrás eu, conduzindo meu carro, que seria primordial para o sucesso da operação. Encostei o veículo perto do dela, abrimos os capôs e quando se preparavam para conectar os fios ligando as duas baterias, surgiu uma nova dúvida. A taxista exclamou: _peraí, qual fio é o positivo? Mais uma vez, exclamei, já rindo e achando a situação cada vez mais divertida. “Ah, então tem positivo ou negativo?” Eu heim...
Aí, como só acontece no Brasil, um senhor que passava e não tinha nada a ver com a história, se aproximou. Decididamente, falou: _tenho certeza que o fio positivo é o vermelho, o negativo é o azul. Nisso se materializa um outro homem e exclama: _Êpa, tenho certeza absoluta que é o contrário! Pronto. Em quem confiar... Todos sacamos dos celulares ao mesmo tempo. Ligações feitas, as informações continuaram contraditórias. Fiquei olhando, com ar desalentado aquele pequeno grupo que já se reunia próximo aos veículos, sem titubear mais, perguntei? _ O quê acontece se ligar o fio errado? Explode tudo? Ao que me informaram que não acontecia nada. Simplesmente não funcionava. Com uma sabedoria extraída de anos a fio, assistindo filmes de ação, falei: _liga o azul, pelo menos para desarmar bomba, sempre funciona. Esse fio vermelho, não vai dar certo não... O debate se acalorou. Eu, já levemente irritada, observando minha tarde de domingo se esvair, pus fim à questão: _É o seguinte, minha bateria já está arriando! Ou vocês fazem essa chupetinha logo ou vou embora, descobre aí, qual o positivo ou negativo da “repimbela da parafuseta”, antes que eu perca a paciência... Os fios foram conectados, até agora não sei qual cor acionava o quê. Acho que o positivo era o vermelho. O carro como que por mágica, funcionou. O ronco suave do motor ecoou no entardecer. Todos sorriem aliviados. Operação “chupetinha” concluída.

ELIANE BRITO, é escritora, advogada, autora do livro “Do Pequi ao sushi-Crônicas de viagens”. Saraiva. eliane@rodovalho.com.br

PRESENTES DA VIDA.


Hoje ganhei dois presentinhos maravilhosos... Meu coração está até apertado enquanto escrevo e olho suas carinhas peludas descansando aos meus pés. Ganhei dois cachorrinhos da raça “Lhasa Apsu”. São cor de caramelo e tão fofinhos que sinto que fui extremamente abençoada. Rapidamente digitei na internet o nome da raça procurando por informações. Descobri que são originários do Tibete. Treinados para serem guardas nos templos budistas. Calmos, inteligente e extremamente amorosos.
Mas, o que mais me impressionou, foi o fato de que para a cultura tibetana é importante ganhar esse cachorro. Ele deve chegar as suas mãos como um presente. E foi exatamente o que aconteceu comigo... Seria um sinal? Eles também acreditam que quem recebe um cãozinho desses em casa se torna extremamente abençoado. Crêem que é o cão quem escolhe o futuro dono, pois, a alma dos grandes sábios, que já alcançaram à iluminação, reencarna nesses animais.
E, olha que eles lutaram para estar ao meu lado. Assim que nasceram, o dono me procurou oferecendo os animaizinhos. Como eu não demonstrei interesse, pois moro em apartamento, acabei recusando. Nos últimos dois meses, ele voltou a me procurar, insistindo. Eu me mantive categórica. Irredutível em minha recusa. Até que hoje em um golpe de mestre tibetano, me aparece em casa levando as duas preciosidades no colo. Foi amor à primeira vista. Eu, que não queria nem um cachorro, me agarrei aos dois e não soltei mais.
E olha que vos escreve uma mulher de coração ferido. Já se vão um ano e meio que morreu minha cadelinha “Paris”. Jurei por todos os santos que jamais teria cachorros novamente. Minha dor na época foi tão grande, que não me sentia capaz de suportar outra perda. Pensando nisso, procurei lembrar dos ensinamentos budistas e fiquei olhando aquelas bolinhas peludas, durante a primeira hora de convivência e repetindo (para me confortar, é claro...): _Você vai morrer, sabia? Um dia você vai embora... Aplicava o ensinamento de Buda sobre a prática do desapego... Ele dizia que é importante “aprender a deixar as coisas partirem”. Desfrutar da convivência sem grande dedicação. E aceitar, quando chegar à hora da separação. Nada é eterno. A realidade é uma ilusão em constante mutação.
Mas, não adianta! Sinto que já me apaixonei! Estou perdida como todos os apaixonados... O cérebro não pode sobrepujar a emoção. E agora, já começo a repetir a seguinte frase: _ Vocês são lindos! Cheios de saúde e vão viver muito ao meu lado. Maria, minha secretária, que passava pelo cômodo nessa hora, exclamou: _ihhh! Já vi tudo! Se acontecer alguma coisa com esses cachorrinhos, você vai parar na UTI!
É isso mesmo. Não tem jeito de sentir uma emoção pela metade. Se for para amar que seja por inteiro. Com o risco da perda, do sofrimento, da dor. Eu aceito a aflição que eles possam me causar e aceito também todo o amor que eles trazem para mim. Eu nunca fui boa em desapego, mesmo. Portanto, sejam bem vindos!

ELIANE BRITO, é escritora, advogada, autora do livro “Do Pequi ao sushi – Crônicas de viagens.” eliane@rodovalho.com.br.