quinta-feira, 28 de agosto de 2008

AMOR NO CIBERSPACE


Vivemos a banalização da expressão “eu te amo”. Hoje os amigos se despedem com um: “então tchau, te amo...” Os pais dizem te amo” à todo momento aos filhos. E por aí vai... Será que isso demonstra que há mais amor no mundo ou ao contrário, que o desamor é tão grande que expressões como essas já não têm a devida importância...?
Quando alguém diz que nos ama, de verdade, dói. Dói por que temos de confrontar com os nossos fantasmas. De autodestruição, auto-sabotagem e o pior de todos, da baixa auto-estima. Todos esses “autos” permeiam nossas vidas sem que percebamos. Eles se infiltram em nosso cotidiano e são alimentados por uma sociedade extremamente competitiva, que nunca nos enxerga como bons o suficiente. Então, quando farejamos que essa expressão está sendo dita verdadeiramente, entramos em pânico. “ama como”?
“que pessoa corajosa”, “eu não mereço”...
Que peso para a alma! Cria-se um estranho paradoxo: “ E agora? Sou amado...logo eu." Segundo nossa gramática, “amar, verbo intransitivo”, não necessita de complementos (adjetivos, substantivos, etc.). É uma expressão completa em si mesma. Nos remete ao infinito. E tem de ser incondicional, senão não é amor.
Jesus disse: “Amai ao próximo como a ti mesmo”. Para se amar verdadeiramente é preciso estar completo. É preciso se respeitar, respeitar o outro e principalmente, não se sabotar, nem se autodestruir. É preciso olhar no espelho e assumir que: “é, sou uma pessoa legal, gente boa, inteligente, esperta, tenho charme, tal...” Então, que venha o amor!
Vivemos, porém, em uma sociedade dominada pelo computador. Com as comunicações cada dia mais ágeis, via MSN, Orkut, E-mails, etc. As palavras transitam no ciberspace com a velocidade do pensamento. Elas perdem poder. Banalizam-se. Vejo isso como uma fuga. Precisamos banalizar para aceitar o peso que elas carregam. É preciso banalizar para aceitar a frieza dos relacionamentos, sua inconsistência.
Precisamos banalizar para aceitar que estamos sós. Perdido no mundo virtual usufruindo de uma falsa segurança. Envolvidos pela doce proteção que existe só no mundo dos sonhos. O duro é encarar a realidade, encarar que somos humanos, cheios de falhas, fraquezas, mas, temos dentro de nós a semente do divino. “Deus está dentro de nós”.

Meu pai só me disse que me ama duas vezes... E eu, meio maluca, acreditei. Com certeza acreditei, porquê ele conhece a extensão e o peso dessas palavras. Por favor, quando alguém te disser que “te ama”, faça um favor a si mesmo, aceite e responda apenas “obrigado”. A única resposta cabível.

Eliane Brito é escritora, advogada e muito amada...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sete vidas



Dias atrás, em um agradável almoço com minhas filhas, a conversa encaminhou-se para todas as vezes que já havíamos visto a morte de frente. Brincaram que eu tinha sete vidas e eu concordei que já havia gasto uma. Uma delas rememorou seu nascimento prematuro e o fato de que poderia não estar ali. Outra se lembrou de um choque elétrico, tomado aos cinco anos de idade. A terceira de uma cirurgia mal-sucedida...
Quanto a mim, falávamos de um grave acidente de carro que sofri, anos atrás. Contudo uma lembrança se insinuou e voltou nítida a minha memória. Já havia me esquecido totalmente desse fato, mas, naquele momento, tive a certeza de que aquela foi a vez, em que eu vi a morte de frente. Exclamei:
_Não, só tenho cinco vidas, já gastei mais uma!
Tive um breve namoro com um rapaz, duas semanas de duração, que residia no mesmo edifício que eu. Quando terminei o relacionamento, X (vamos chamá-lo assim...) começou uma verdadeira caçada à minha pessoa.
Seguia-me pelas ruas, aparecia em todos os lugares onde eu estava, mandava recados, flores, etc. Quando percebeu que eu estava firme em meu propósito, começou a fazer ameaças de todos os tipos, que eu inconseqüentemente ignorava.
Certo dia, porém, estava sozinha em casa, quando toca a campainha. Abri despreocupadamente a porta e X invadiu o apartamento. Tentei argumentar, explicar minhas razões, mas, ele estava transtornado. De repente, sacou de uma arma e começou a andar de um lado para o outro, brandindo-a em todas as direções. Falou que poderia me matar ali, naquela hora e que tudo estaria resolvido.
Não sei por que, mas, senti uma indignação tremenda com aquela situação. Uma raiva imensa me dominou. Comecei a desafiá-lo: “ _Então mata agora! Exclamava batendo no peito._aproveita e mete uma bala na sua cabeça também!” Naquela hora, eu não tinha medo de nada. Como todo adolescente, me julgava imortal.
Essa cena dantesca continuou por alguns minutos, quando ele se aproximou e encostou a arma na minha cabeça. Se eu tivesse morrido ali, posso assegurar, não teria sido com medo. Em situações de tensão, todas elas, eu fico estranhamente calma.
Fui salva pelo meu irmão (que morava comigo) retornando de uma missa. Ele agiu com firmeza e decisão. Falou a X com autoridade, conseguindo colocá-lo para fora. Ligou então, imediatamente para um tio meu, que era da polícia, relatando o ocorrido. Esse tio procurou X e lhe deu provavelmente um bom “aviso”, desses que só policiais podem dar. O que fez com que X me deixasse em paz.
Relatei tudo isso a minhas filhas, que a essa altura já estavam boquiabertas. As três então se levantaram e me abraçaram. A caçula exclamou, com voz chorosa:_ “ Mãe, você poderia estar morta!”
Hoje, do alto da minha maturidade, percebo o quanto fui inconseqüente, desafiando-o naquele momento de tensão. O quanto às emoções são delicadas, especialmente o amor, ou, nesse caso, as paixões e como merecem um cuidado de nossa parte. Amor não se impõe. Absolutamente. Simplesmente acontece. Percebo também que Deus, com toda certeza me protegeu naquela hora. Tenho que concluir que ele tem algum propósito para mim. Uma missão que só eu posso desempenhar. E é por isso que estou aqui.

Eliane Brito é escritora, advogada e uma sobrevivente.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Unidos pelo afeto


Segundo as estatísticas do IBGE, nunca se desfizeram tantos casamentos. Estamos na década provavelmente, em que mais mulheres se descasaram. A sociedade liberta dos padrões rígidos de antigamente, já não sanciona com gravidade essa mulher. Antigamente romper com esse vínculo era sinônimo de humilhações, preconceitos e segregação. Há uma ou duas gerações passadas, a mulher que optasse por essa medida sabia que iria enfrentar uma via crúcis, para se reestruturar e garantir algum respeito. Tudo isso mudou, os ares libertários dos anos sessenta atingiram essa instituição milenar, aceitando que as pessoas devem ser livres em suas escolhas.

Podemos destacar algumas mudanças que impulsionaram essa “popularização do divórcio”. A primeira seria a igreja, que já não exerce a força repressora de antigamente. Não que ela se posicione favorável à separação... Mas, paulatinamente as idéias cristãs vêm perdendo espaço. No mundo moderno, as pessoas já não levam tão a sério assim as “penas do inferno”, então, todos os fantasmas que aterrorizavam as mulheres vão se transformando em fumaça. Outra importante mudança foi o aumento gradativo da participação da mulher no mercado do trabalho. O dinheiro é uma força, capaz de mover o mundo e transformar realidades. Cria novas oportunidades, descortina novos horizontes. A mulher do século XXI, com sua independência garantida pelo contracheque, tem aturado cada vez menos desaforos.

O direito tem acompanhado essa tendência. A desinstitucionalização do casamento é uma realidade no direito de família. Leis garantem uma maior celeridade nos processos de divórcios, que hoje podem ser feitos até em cartórios (Com algumas ressalvas em caso de filhos menores, etc.) Aplica-se atualmente no contrato de casamento, o mesmo princípio aplicado aos demais contratos, do “Affectio”, que é igual à vontade, querer, desejo de ficar juntos. A lei entende que o que deve unir um homem e uma mulher é a afeição, o objetivo de se construir um lar. A dignidade também é um valor que deve ser preservado e ser a garantia máxima de ambas as partes.

Mas, como tudo, a onda de separações traz em seu bojo o bem e o mal. Não podemos esquecer que nem tudo é festa! Todo rompimento carrega consigo mudanças e transformações. Dolorosas, mas necessárias para se alcançar uma melhor qualidade de vida. Nessa hora o direito também nos socorre, quando classifica as separações em muitos casos como “remédio legal”. Muitas vezes para uma relação doentia e neurótica, a prescrição mais apropriada deve ser esse remédio radical chamado divórcio. Que mata o vírus do desamor e das brigas, para deixar florescer a paz e a serenidade.


Eliane Brito é escritora e advogada. Nesse artigo, mais advogada que escritora...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Viva a contra-revolução!



O papel feminino tem mudado ao longo dos anos. Com o advento da revolução industrial e a pílula contraceptiva, sabemos que o modelo feminal conhecido até então foi modificado. Surgiu uma nova mulher, mais independente, mais atarefada e... mais doente. Ultimamente várias mulheres com que tenho conversado estão com algum tipo de enfermidade. Problemas como: depressão, síndrome do pânico, arritmia cardíaca, labirintite, herpes labial. A lista é extensa. Grande como os males modernos. Essa é a época de ouro das mulheres. Temos tudo pelo qual lutamos. Temos trabalho, dinheiro, independência e um pouco mais de respeito. Sustentamos lares, podemos casar e descasar, modificamos nossos corpos ao bel prazer. Estamos mais bonitas, mais livres, mais ricas, então, o que deu errado?

Os orientais vêm o mundo dentro de uma dualidade. Ying e Yang. O princípio masculino, ativo, agressivo e o feminino, passivo, fluído. Todos nós temos essas duas forças atuando em nosso organismo. Porém, no caso feminino, deve predominar a energia Yang, mais sutil, mais maleável, intuitiva. Quando negamos nossa essência, as características marcantes da nossa personalidade e de nosso DNA, geramos um desequilíbrio que precisa ser compensado. A natureza então, faz seu trabalho de ordenamento, de busca do equilíbrio perdido. E muitas vezes a doença é uma etapa para a cura.

Toda conquista implica em ônus e responsabilidades. O que deu errado é que esquecemos que havia um preço a ser pago. Stress, doenças, pressão psicológica, responsabilidades triplicadas. Parece que nosso traço mais marcante, chamado sensibilidade feminina está se rebelando contra o sistema. Não suportando a pressão, nosso organismo reage e transforma essas agressões externas em doenças.

Assistindo ao programa Saia Justa do GNT, a apresentadora explicava que, segundo os psicólogos, quando nos deparamos com um problema temos basicamente quatro alternativas: Mudar; aceitar; negar ou sofrer. Pelo jeito a mulher moderna não mudará nada no modelo construído a partir do dia em que se queimou o primeiro sutiã. Continuará em movimento retilíneo uniforme, vestindo a máscara de “super poderosa”. E, como das alternativas acima, escolheu a última, continuará sofrendo...

Viva a contra-revolução! Devemos recuar um pouco. Reaprender a dividir responsabilidades. Criar nossos filhos com o pai do lado (se for possível); dividir as contas ou deixar que alguém as pague; aceitar que nos abram a porta do carro; chorar quando receber flores; vestir um vestido bonito e sair por aí. Após tantas batalhas, podemos relaxar um pouco no controle. Não... Não vamos perder tudo o que conquistamos. Vamos apenas, fazer uma pequena correção na rota e resgatar muitas coisas boas que se perderam no caminho. Lembrar-nos que somos mulheres sensíveis, amorosas, delicadas e precisamos de um pouco de mimo. Faz parte do nosso charme. Eu, pelo menos, adoro ser mimada.

Eliane Brito é escritora, advogada e muito, muuuuito mimada!