segunda-feira, 10 de agosto de 2009

TENHO MEDO DO COLLOR!


Ai! Que canseira! Assistindo aos noticiários televisivos surge o palco do senado, em cena, dois titãs se digladiando. De um lado, o Ex-presidente da República, Fernando Collor, de outro, engrossando o “bate-boca”, O Sen. Pedro Simon. Além de sentir medo (é claro, com a carranca e o olhar maligno do ex-presidente), senti um desânimo tremendo.
Sabe aqueles pesadelos recorrentes? Quando você acha que o sonho acabou e no dia seguinte, sonha tudo novamente. Collor, assim como fênix ressurge das cinzas. E pensar que eu fui uma das “caras pintadas”. E pensar que eu fui um dos milhares de brasileiros que pediram o impeachment desse homem? De que adiantou? Pergunto cá com meus botões...
Os mesmos personagens se revezam no palco do poder. Somente em posições diferentes. De um lado o Presidente Lula, de outro Collor, em contraponto Sarney. Se fosse um jogo de xadrez, a diferença seria a função de cada peça. O peão virou rei, O rei virou bispo e por aí vai. Parece-me que o Sen. Collor se fechou, protegeu-se dos golpes e agora, que se sente curado, coloca as garras de fora. Mostra a verdadeira face que estava embutida, cheia de ódio, rancor e ameaças. Tenho pena dos brasileiros, que o reelegeram. Tenho pena também do próprio Collor, nem sua tragédia pessoal foi capaz de mudar sua natureza. Dizem que as pessoas mudam, mas, aí está a prova cabal de que toda mudança exige antes de tudo, um pequeno milagre. De vontade e transmutação.
Isso tudo me recorda uma história contada por Buda. Relata o iluminado que um monge que o servia, certo dia encontrou uma cobra ferida na floresta. Levou-a ao acampamento, cuidou da mesma com todo carinho, alimentou-a. O réptil reagiu, ganhou força, saúde. Certo dia, o monge decidiu que chegara a hora de reintroduzi-la no bosque. Coloca a serpente em uma caixa e a solta no meio do mato. Quando a cobra se afastava, sob o olhar atento do monge, de repente, retorna e o ataca no calcanhar. O monge regressa ao acampamento machucado, chateado e indaga do iluminado sobre o motivo dessa atitude do ofídio. Buda apenas responde: “Você foi fiel a sua natureza, que é a compaixão, a cobra foi fiel à natureza dela, que é o ataque. Não se pode mudar a natureza das coisas.”.
Penso que nosso querido Presidente Lula, tal qual o monge da história, acolhe Collor em seu regaço. Abre-lhe a portas do palácio, cura seu ferimento, o afaga. A única diferença é que não sabemos qual a sua verdadeira motivação. Tenho Medo. Penso que Presidente pode sair ferido. Nós brasileiros já estamos.


Eliane Brito é cronista, escritora e advogada. eliane@rodovalho.com.br

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