segunda-feira, 13 de abril de 2009

Diário de uma vegetariana.


Sinceramente eu achei que me conhecia. Sempre tenho uma resposta pronta quando me indagam sobre alguma questão e respondo com segurança. Quando declarei que não mais comeria carne, muitos me perguntaram se eu achava realmente possível viver sem proteína animal? Argumentaram que seria muito difícil. Eu rebatia com convicção: _Nada é difícil quando se está determinado. Meu sorriso jocoso e superior contava da minha resolução, porém o caminho se mostrou árduo.
Acho que o desejo de parar completamente de comer esse alimento surgiu na minha viagem de férias, no final do ano. Foi um sentimento indefinido que foi crescendo enquanto eu observava as grandes fazendas do estado de Mato-Grosso do Sul, com milhares de cabeças de gado salpicando os campos. Olhando aquele contingente imenso de seres pastando tão placidamente, sem saber o destino que os aguardava, pela primeira vez na vida, juro, senti pena daqueles pobres animais. Outro fator que também contribuiu foi o contato intenso e direto com a natureza. Passei dias tomando banhos de cachoeiras, nadando em rios, andando no meio do mato e reconectei-me novamente ao planeta. Voltei a enxergar a terra e todos os seres. Sentidos que muitas vezes ficam embotados na cidade se reavivaram. Esse sentimento indefinível e amoroso se fortificou e tomei a decisão: _Não comerei mais carne! Será bom para o mundo e para mim.
Assim, cortei tudo que tivesse origem animal. Carne-vermelha, frango, presunto, salsicha, lingüiça, etc. Não imaginava como isso iria restringir meu cardápio. Nos primeiros dias foi muito difícil. Alimentava-me de duas em duas horas. Parecia que nada me saciava. Estava sempre com fome. Fui a festas onde fiquei observando os convidados comerem, enquanto eu apenas bebericava.
Notei que passei a consumir (principalmente em restaurantes) mais massas e doces. Reajustei a rota para evitar ganho de peso. Vencidas as duas primeiras semanas, aconteceu um fenômeno interessante. Passei a sonhar com carne. Certa noite sonhei a noite inteira que preparava suculentos bifes e comia com prazer. Síndrome de abstinência total. Lembrei-me do filme infantil Madagascar, onde o leão “Alex”, só pensava nisso, demonstrando como esse hábito é poderoso.
Vencidos os primeiros meses, os benefícios foram tremendos. Sinto-me mais leve, minha digestão ficou mais rápida e eficiente, estou mais calma e contemplativa. Não posso afirmar que é a carne somente, mas, minha agressividade diminuiu. Deduzi que consumir carne nos bestializa um pouco, ficamos mais nervosos. Além disso, ainda apresento um excelente argumento, o vegetarianismo nos deixa mais magros e para arrematar, as pesquisas indicam que a carne vermelha é altamente cancerígena.
Essa é uma mudança necessária para quem realmente se preocupa com o aquecimento global e a preservação do planeta. Recomendo. Tente e faça, quando você tiver vencido essa batalha se sentirá como eu...Mais consciente, participativo e forte!

ELIANE BRITO é escritora, advogada, autora do livro “Do pequi ao sushi-Crônicas de viagens”. eliane@ rodovalho.com.br Publicado no DM do dia 10 de abril de 2009, sexta-feira da paixão.

Um comentário:

Unknown disse...

Ao contrário do que as pessoas imaginam, quando nos tornamos vegetarianos nosso cardápio não fica restrito... ele aumenta drasticamente. Isso porque deixamos de lado o paradigma de que comida é carne e passamos a olhar com outros olhos para as infinitas variedades e combinações de cereais, legumes, leguminosas, verduras, queijos, frutos, especiarias e tudo que um vegetariano come.