terça-feira, 13 de outubro de 2009

Em briga de marido e mulher, meta a colher!

Moro em um bairro nobre, uma região com milhares de prédios, colados uns aos outros. Nessa madrugada fiz algo que jamais havia feito: liguei para a polícia. Ocorre que, acordei assustada em plena madrugada, com os gritos agudos de uma mulher, apanhando. Os sons das pancadas eram claros com o choro desesperado das crianças ao fundo. Deduzi que fosse o marido, aos brados, gritando palavrões, enquanto espancava a pobre criatura. Fiquei ouvindo por alguns segundos, tentando identificar de onde vinha o som e percebi que era do prédio ao lado. Observei que as luzes do edifício estavam acesas. Deduzi que os vizinhos, assim como eu, acompanhavam a sessão de tortura. Porém, não ouvi vozes de terceiros interferindo ou prestando auxílio. Indignada, peguei o telefone e liguei para a polícia. Continuei ligando, de cinco em cinco minutos, até que ouvi os sons de sirene na rua e a calmaria voltou a reinar.
Penso que chegou a hora de metermos a colher no meio dessa briga. Os números da Delegacia de Homicídios são alarmantes e demonstram que dezenas de mulheres estão morrendo em decorrência da violência doméstica. Sinto-me de certa forma culpada, por nunca ter tomado nenhuma providência para minimizar essa situação. Ao menos, escrever um artigo, como agora. Talvez em decorrência desses conceitos arraigados de que não devemos nos intrometer no lar alheio. O que esses homens fazem é crime! E, precisa ser punido como tal. Nossa Constituição Federal foi bem clara ao afirmar que a casa é “asilo inviolável.” Porém esse conceito não é absoluto. Como quase tudo no direito. Podemos romper com essas amarras em caso de “flagrante delito ou mesmo para prestar socorro”. (Art. 5º, inc. XI, CF)
Sendo assim, não pense você que sou uma “vizinha intrometida”. Sou uma cidadã que gosta de fazer valer os seus direitos. E o dos outros, é claro. Depois do episódio encerrado, fiquei tomando uma xícara de leite quente (já que havia perdido o sono) e analisando os motivos de tantas agressões contra mulheres em nosso estado. Ocorreu-me a hipótese de que (o que para mim parece saltar aos olhos) esse comportamento é resultado da cultura machista do homem goiano. Nossa herança agrária. A mulher é vista como “res” ou na tradução latina, “coisa”. Um objeto que pode ser destruído, caso não atinja mais sua finalidade. É a “coisificação” do ser humano. Uma visão distorcida levando a essas barbaridades.
O homem que compactua com essa posição não aceita, por exemplo, o divórcio. E mesmo quando aceita, se considera proprietário da ex-esposa. Passando a demonizar a vida da ex-companheira, como legítimo dono. Um brinde com leite a nós mulheres! Como somos bem resolvidas... As estatísticas mostram que somos as primeiras a perceber que um relacionamento fracassou e cair fora! Sejamos honestos, o que mantém uma união é o afeto e principalmente o respeito, inclusive à integridade física do outro.
Que os homens apreendam a aceitar o fim de uma relação, tenham a dignidade e a hombridade de reestruturar suas vidas e PAREM com essa covardia de bater, matar e aterrorizar mulheres e crianças desprotegidas. Uma coisa eu te garanto. Se for na minha frente, eu chamo a polícia! Código Penal e Lei Maria da Penha neles...

ELIANE BRITO é Escritora, Cronista, Advogada. eliane@rodovalho.com
Crônica publicada no DM do dia 12 de outubro de 2009.

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