segunda-feira, 13 de abril de 2009

DE MAROLA EM MAROLA...



O céu se abriu sobre Goiânia. Era final de tarde e a chuva torrencial anunciava que São Pedro estava nervoso ou quiçá irado mesmo! Pelo volume de líquido que despejava havíamos sido condenados já em primeira instância a morrermos pelas águas novamente. O Todo-poderoso não iria permitir isso, pensei... afinal ele havia feito aquele velho acordo com Noé. Liguei o pisque - alerta, acendi os faróis, diminui a velocidade, enquanto observava o riacho por onde navegava. Sim, senhores! A avenida havia se transformado em um belo e caudaloso ribeirão, alimentado por vias marginais que o nutriam sistematicamente. Fui ficando apreensiva. A correnteza estava bem forte e a visibilidade péssima.
Estaquei. Logo à frente, um pequeno ônibus de transporte escolar havia batido em três carros provocando um engavetamento. Notei que não era nada grave. O trânsito ficou lento e penoso com o engarrafamento. O pequeno rio por onde navegava, a cada minuto parecia ganhar mais força. Enquanto prosseguia lentamente lembrei-me dos representantes do poder público colocando a culpa na população, responsável por jogar lixo nos bueiros. Será? Observando o caos, a total falta de escoamento, a engenharia das ruas (e olha que sou leiga nisso) tive a intuição de que o problema é mais grave do que se supõe. O estado sabe usar com maestria do subterfúgio de culpar o cidadão. É fácil culpar a coletividade e se imiscuir da responsabilidade. Difícil é assumir que os órgãos responsáveis pelo planejamento urbano, pela engenharia das vias, pelo esgoto, pelas canalizações não tem feito seu papel ou o faz de forma deficitária. É muito trabalho e demanda mudanças.
Cheguei à pracinha que faz a ligação da Avenida 136 e Rua 90 no setor sul. Em um grande telão luminoso, de frente para a praça, passava uma propaganda do Governo Federal. A chuva já havia arrefecido um pouco e parada ali no sinaleiro fiquei assistindo ao país de sonhos retratado nas imagens. Em tomadas aéreas visualizávamos fábricas, estradas perfeitas, lavouras, indústrias, crianças bem nutridas, etc. Quando acabou, exclamei em voz alta para meus botões: _Estamos na Suíça! É isso!
Aquele país mostrado nas telas não era o que eu estava vendo. De dentro do carro, observava o trânsito caótico, uma árvore tombada, os carros da polícia fazendo a ocorrência do acidente, etc. Mas, quem sabe o que estava enxergando não era uma ilusão? Talvez a realidade fosse aquela da tela... Imaginei-me presa em um mundo paralelo. Esperava que quando acordasse no meu mundo real, me aguardasse um Presidente com carinha simpática, sorriso estampado na face, que me tranqüilizasse dizendo assim: _Calma! Foi só uma marolinha!

Eliane Brito é escritora, advogada e cronista. Autora do livro “Do pequi ao sushi-crônicas de viagens”. eliane@rodovalho.com.br

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