quarta-feira, 16 de abril de 2008

O prazer de viver- notícias do cerrado.


Assisto ao noticiário todos os dias. Eles retratam a vida moderna, suas tensões e dificuldades. Sem sombra de dúvida, o mundo está desequilibrado. Observo problemas ambientais, de relacionamentos, violências, guerras e protestos. Esses dias a apresentadora do telejornal, exclamou, após uma seqüência de notícias ruins, quando noticiou um fato positivo: _ Ufa! Finalmente uma noticia boa!
Se observarmos nossa casa, no caso a terra, pelo ângulo do meio ambiente, perceberemos que a destruição que assola nosso planeta é enorme. Divulgaram uma foto do espaço aéreo terrestre, totalmente poluído por milhares de artefatos. Somos um imenso globo azul, rodeado de uma quantidade enorme de lixo espacial. E aqui dentro não é diferente. O lixo está por toda parte, nas nossas cidades e o pior na mente do ser humano.
Acredito piamente que o mundo exterior reflete nosso estado interior. O que nós pensamos de alguma forma se manifesta a nossa volta. O ser humano passa a impressão de estar fora de rota. Agonizando sem saber se proteger e viver uma vida integrada com a natureza e com seu semelhante.
Outra faceta de nossa personalidade que reflete essa intensa desagregação são os relacionamentos. As pessoas realmente se esqueceram do que importa. Esqueceram-se de manifestar amor e respeito. Os padrões rígidos que nossa sociedade seguia no passado, com base nos mandamentos cristãos, pelo menos serviam para uma coisa. Deixar bem claro o que era importante. Coisas como honrar pai e mãe; não matar; não roubar; lembrava-nos que existe algo sagrado em alguma parte de nós. Nossa filiação divina.
Mas essas coisas hoje em dia são bregas, são ultrapassadas. Os filhos discutem em pé de igualdade com seus pais e muitas vezes utilizam recursos de humilhação e desqualificação impensáveis há poucos anos atrás. Em contrapartida os pais resolveram reagir. Agora quando o filho enche muito o saco, eles o jogam pela janela! Essas coisas me pesam e começo a me sentir muito velha. Sinto as costas curvadas de tristeza e compaixão por essa humanidade maluca.
Quantas máscaras sociais! Quanto ódio as pessoas mascaram sob uma capa de cordialidade. Quando vemos casos como o de Isabela Nardoni, percebemos que existe algo de muito podre nessa sociedade. As pessoas quando permitem exteriorizar seus medos e tensões, explodem em um ódio absurdo e irracional. Todas as pressões dessa cultura mesquinha se extravasam no local que deveria ser o mais sagrado para o ser humano. Seu lar. As máscaras caem e as pessoas se transformam em bestas, em verdadeiros predadores. É ódio puro e letal. A outra face da humanidade, aquela que deveria ser minimizada, aparece e nos deixa estarrecidos.
Nessa balbúrdia, a beleza e o prazer da vida se embotam. Como dizem os franceses, “o joie de vivre”. Apreciar uma boa refeição, uma boa música. Trabalhar com alegria, pois, é uma honra servir as pessoas. Dormir tranquilamente, sentindo a textura do lençol, a maciez do colchão. Gozar das delícias de um abraço apertado e do luxo de olhar dentro dos olhos de quem se ama por intermináveis cinco minutos. Fazer uma guerra de travesseiros ou ficar sem fazer nada, só olhando as nuvens no céu, procurando distinguir suas formas mágicas.
Tudo se perdeu? Não sou pessimista, mas, ultimamente... A confusão da vida moderna têm me exaurido. A sensação é de ser fraca e impotente para reagir perante esse mundo dominado pelo ódio e pelo desamor. Queria voltar a ser criança, acreditar que tudo é belo. Que o mundo é um lugar seguro e que as pessoas são confiáveis. Se alguém tiver alguma fórmula para me ajudar nessa regressão me envie. Uma fórmula que me faça lembrar que o amor existe. Só está escondido em algum lugar entre o céu e a terra.

Eliane Brito.
É escritora e advogada.(Crônica publicada no jornal "o popular" do dia 26-05-08).