sexta-feira, 8 de abril de 2011

A VIDA E SEU ETERNO DISPERSAR

Como amamos essas criaturinhas chamadas “cachorros”. Eu, pelo menos. Já sofri muito, muito mesmo por causa dessa afeição. Na minha história recente de vida, destaco duas grandes perdas: A primeira, uma cadelinha aristocrática da raça York Shire a quem denominei “Paris”. O segundo, um cão inteligente chamado Prince. Minha história com Paris começou em uma ida ao shopping em um sábado à tarde, ao passar em frente a um pet shop, naqueles chamados “cinco minutos de bobeira”, resolvi adentrar. Assim que  há vi, foi paixão a primeira vista. Comprei imediatamente, cuidei, vacinei, mimei, amei demais.

Viajo muito e descobri que isso é perigoso quando se tem cachorros. Ou você organiza suas viagens para que eles caibam nelas ou não viaje. Resolvi viajar e paguei caro por isso. Pesquisei o melhor hotel de cachorros da cidade. E, cruelmente, digo, realmente me sinto cruel quando lembro, hospedei-a ali. Quase não aproveitei a viagem, ligava sem parar para ter notícias, meu sexto sentido já me alertava de que havia algo errado. Dito e feito. Quando a peguei, pelo seu olhar triste percebi que não havia sido fácil a experiência. Em pouco menos de um mês a perdi.

Ela havia sido contaminada com um vírus letal, parecido com o HIV dos humanos e apesar de todas as minhas tentativas faleceu. No dia do falecimento (ela já estava internada há dois dias) mal dormi à noite, lembrando-me de seu rostinho (se é que isso é palavra apropriada para se referir a cachorros). Levantei cedo e antes de qualquer compromisso, segui para a clínica. Assim, que entrei a veterinária se aproximou e falou de supetão: Estava tentando te ligar! Infelizmente ela não resistiu! Faleceu. Desabei ali mesmo na sala de espera. Não chorei. Urrei! Preparei o corpo, sepultei no fundo de meu quintal e prometi a mim mesma que nunca mais teria cachorros.

Aí conheci um príncipe. Pois essa foi a primeira palavra que me veio a mente quando o vi. Lindo, com os pelos caramelos, quase dourados, resolvi abreviar o nome e chamá-lo de Prince, utilizando a língua inglesa. Da raça Lhasa Apsu, tornou-se meu companheiro inseparável de todas as horas. Quando chegava a casa, minha primeira palavra, meu primeiro carinho era pra ele. O resto da família se sentiu absolutamente excluído dessa relação. Mas ele era tão charmoso, tão especial, que até o seu maior opositor passaria a admirá-lo. Eu, Sempre que chegava a casa o cumprimentava: _ Prince, eu te amo! Entendeu? Eu te amo meu príncipe! E, ficávamos horas no chão. Eu, olhando dentro dos seus olhinhos negros e fazendo um interrogatório que beirava a tortura: Fala. Fala que vc me ama! Fala eu estou mandando! E ele ali, falando com os olhos, me lambendo o rosto, me dando leves mordidinhas. Eu o abraçava e gritava: louco, vc é um louco! Mas, eu te amo!

Aonde quer que eu estivesse na casa, ele sempre vinha e se deitava aos meus pés. E, ficava ali, humilde, me olhando. Até que um belo dia, a tragédia... Deixaram a porta aperta e o doidinho fugiu! Quase enlouqueci. Fiquei dois dias sem trabalhar andando pelas ruas, gritando seu nome. Chorando, me assustando a cada barulhinho achando que ele descobriria o caminho de volta. Demorei a aceitar. Demorei a acreditar que nunca mais veria aquela criatura tão especial.

Mas, com o passar dos anos cada vez uma constatação se cristaliza na minha alma. A vida é um dispersar. Estamos sempre perdendo coisas, sentimentos, pessoas. Nesse redemoinho que é viver, as coisas nos alcançam por um minuto, que pode ser eterno e se vão. Não temos como reter nada. Quando elas se vão pensamos que vamos morrer. A dor é grande e não existe luz no fim do túnel. Mas a dor também se dispersa. E, no final, fica um sentimento de aprendizado. A incrível descoberta de quem realmente somos através da leitura de nossos sentimentos. Estamos aqui somente para aprender a amar. Essa é a grande lição. Assim, sigo... Aguardando meu dispersar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Liberdade de um tênis velho.

Paguei pelo tênis novo, já antevendo o prazer que sentiria, no dia seguinte, em minha corrida matinal. Sai da loja com um sorriso no rosto e a certeza de uma boa compra. Na manhã seguinte, ao nascer do dia, desembarco em um parque da cidade. Alongamento, ajustes finais, começo um leve trote para aquecer. Êpa, ando cerca de cem metros e já percebo uma incômoda dor no pé esquerdo. O tênis estava me machucando, constato. Paro, tiro do pé, ajeito o cadarço, calço novamente. Tudo em vão, após uma curta distância, desisto. Todos os meus planos de vida saudável frustrados. Praguejo mentalmente e decido dar por encerrada minha ginástica matutina.

Procuro uma sombra agradável sob uma bela árvore, com a visão do lago a se descortinar a minha frente e resolvo meditar um pouquinho antes de ir embora. Quando estava conseguindo aquietar meus pensamentos, sou despertada por grandes formigas negras, decididamente subindo pelo meu corpo. Calma. Respiro profundamente e retiro os insetos da roupa, tomando cuidado para não matá-las. Afinal, elas tinham mais direito de estar ali do que eu. Ou não, como diria Caetano.

Já me livrando do mau-humor que lentamente tentava me dominar, sigo mancando em direção a um quiosque, onde um simpático senhor vende cocos verdes. Encosto-me no balcão e peço um coco gelado. Ele, gentilmente informa que não tinha. Só coco natural. Aceito. Pelo jeito o dia não respeitaria nada que eu planejasse para ele. A melhor saída era me adaptar. Apesar de ser sete horas da manhã, o sol já estava á pino. Bebo devagarzinho, observando as arvores totalmente verdes após as chuvaradas da primavera. Exuberantes com suas frutas e flores. Era incrível como após um inverno tão seco, a natureza reagisse tão rapidamente com as primeiras águas.

O vendedor então puxou conversa comigo. Perguntou se eu conhecia “jatobá”, mostrando-me os frutos, de casca marrom e dura, que estavam sob o balcão. Afirmei que sim. Fora criada às margens do Rio Araguaia, onde eram abundantes essas árvores. Ele então, apontou para a grande árvore de jatobá, de onde há pouco, colhera os frutos. Perguntei-lhe se ele me daria um fruto de presente, pois, “havia bem uns vinte anos que eu não comia desse alimento”. Ele concordou prontamente e abriu o mesmo para mim. Havia me esquecido do gosto acre e forte, de como era pegajoso e grudava nos dentes. Não era de todo mal.

O envelhecido vendedor então me falou que “mulher tinha que comer pouco jatobá, bem pouquinho...” Acrescentou que deixava as mulheres “muito fortes”. Falou isso, com um sorriso malicioso no rosto, estufando o peito. Não entendi. Então perguntei: “Forte, como? Com vontade de namorar?” Ele riu a valer, mostrando a boca banguela. “Sim, era isso mesmo...” Concluiu.

Nesse ponto se estabeleceu certa camaradagem entre nós. Ele saiu detrás do balcão e começou a contar a vida, como só as pessoas simples e solitárias sabem fazer. Era maranhense, trabalhara em tudo nessa vida, até no garimpo de serra pelada. Fora pescador em São Luiz, casara-se duas vezes e quase se casara quatro. Ele então explicou que quando estava para se casar, das outras duas vezes, Deus lhe dera entendimento e ele desistira da empreitada. Com a segunda e última mulher, já tinha vinte e sete anos de casado e dois filhos. Com a primeira, ficara um tempo junto, pouco tempo... Perdera a paciência, principalmente com o sogro, “que era um pinguço de quinta categoria” e a abandonara, juntamente com os três filhos. Tomou uma “ojeriza” tão grande da criatura que nunca mais voltara nem ao menos para ver os meninos. Contou tudo isso sorrindo, sem um pingo de remorso.

Aí então concluiu: “A coisa que eu mais gosto é liberdade”! Se eu fosse mais jovem, tivesse mais saúde, sumia no mundo, ia conhecer tudo... Eu, que sou uma viajante natural, tive meus instintos aguçados. Perguntei: “O Senhor tem vontade de viajar para o estrangeiro”? Não ficaria com medo? Ele afirmou que era isso mesmo. E, concluiu: “melhor coisa que existe é correr mundo".

Fiquei ali pensativa alguns minutos, olhando para os meus tênis novos, sentindo o latejar do pé. É, liberdade é uma coisa boa, um tesouro. Mas, pra ser boa de verdade mesmo, precisa se ajustar perfeitamente ao corpo da gente, ser confortável, assumindo a nossa forma. Algo assim, como um tênis velho.



ELIANE BRITO, é escritora, advogada, conselheira seccional, presidente da Comissão de Cultura da OAB-GO. eliane@rodovalho.com.br


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A FORÇA ESTÁ EM VOCÊ!

Fiquei alguns segundos tentando identificar seus sentimentos (técnica que havia aprendido com a prática do Yôga) e rapidamente deduzi: “Ela deseja morrer, é isso”. Como uma observadora distante, pois, era apenas uma amiga, não entendi. Sua vida parecia perfeita. Tinha uma família, carreira, casa maravilhosa em condomínio de luxo, tudo que uma mulher poderia desejar. Impotente, somente constatei que ela queria morrer.

Essa certeza se cristalizou em meu espírito e comecei a conversar com ela. Ela estava possuída por um monstro, muito comum na sociedade moderna, talvez mais comum do que na antiguidade, chamado “depressão”. Contou-me chorando que passava horas do dia imaginando técnicas sofisticadas de tirar a própria vida. Rechaçara várias e por fim, optara por uma que achara mais simpática. Entupir-se-ia de calmantes, encheria a banheira e tinha certeza, morreria afogada. Segundo ela, o psiquiatra ao lhe receitar os remédios, a alertara que caso viesse a ingerir “acidentalmente” todos os comprimidos da caixa, não morreria, simplesmente dormiria por alguns dias. Explicara-lhe que era um remédio seguro. Porém, dentro de uma banheira, não haveria segurança.

Mas, ali, naquele momento, quem não estava segura era eu. Sempre fui uma referência no que diz respeito a bom-humor e alegria. Entretanto, tinha de admitir, não sabia o que fazer. Como ajudá-la? Afirmei-lhe que essa companheira indesejável que ela adotara: “A tal dona depressão”. Tinha de ser expulsa da sua vida de qualquer maneira. Ela jamais deveria ter aberto a porta de sua casa, de sua vida, para essa dona. Ela me contou que agora era impossível, sempre que acordava essa senhora mal-educada, estava ali, com sua cara soturna lhe observando. “Quando percebi me acompanhava por todos os lugares, ditava minha rotina, controlava meus passos”. Concluiu. Animei-a um pouco e me retirei, com o coração na mão de preocupação.

Dias depois viajei para Aruanã. Ali, a providência divina, Deus, ou seja, lá o que for me colocou frente á frente com “Lars Grael”, o campeão mundial e medalhista olímpico de Iatismo, que perdeu uma perna em um acidente no mar. Perguntei-lhe: “Lars, quando você estava ali caído e depois no hospital, tendo de conviver com um trauma tão grande, onde você encontrou forças? Como conseguiu reconstruir sua vida e se recuperar?” Ele falou sobre várias coisas, sobre Deus, sobre as orações que recebera, pensou e por fim concluiu: Existe uma força dentro de nós, não posso dar um nome específico, talvez seja Deus, mas, todos têm a capacidade de reagir. De seguir adiante.

Voltando a Goiânia, relatei essa conversa a minha amiga e lhe afirmei. Vamos lutar! Vamos procurar essa força! Levante dessa cama e quando essa Dona depressão lhe mandar morrer, sorria e dê de ombros. Ela reagiu, topou o desafio. Voltou a praticar exercícios, começou a se alimentar melhor, reduziu paulatinamente as doses de calmante, voltou a rezar (pois, havia parado totalmente). E assim, a mudança foi se operando. Expulsou a Dona depressão de sua vida, jogou suas tralhas na rua, deu-lhe com a porta na cara e resolveu: “Quero viver”.

A cabala nos ensina que Deus, no primeiro dia, quando criou a terra, viu que o que ele havia feito era “bom”. Talvez, esse seja o sentido da vida: Ela é simplesmente boa. E é por isso que convidei essa dona, “dona vida” para sempre me acompanhar, para me ensinar e orientar no caminho. Ela sempre está comigo e eu a louvo e bendigo. Descobri que minha amiga é forte e que essa força também vive em mim e em você. Shalon.





ELIANE BRITO é escritora, cronista e advogada. eliane@rodovalho.com.br

terça-feira, 17 de agosto de 2010

CONDUZINDO MISS ELIANE.

Que figura ao mesmo tempo doce e enérgica, pensei, observando o simpático velhinho. Perguntei seu nome e ele me respondeu que se chamava “Les Stokes”. Eu rapidamente decidi que o trataria simplesmente por Mister Les. Estava na Inglaterra e fui premiada com a sua companhia , como meu motorista. Ele assumiu essa tarefa e mais ainda, assumiu o papel de meu guardião, intérprete (para meu desgosto, pois queria praticar a lingua) e meu mordomo. Eu diria que Mr. Les adotou-me em solo inglês. Nossa empatia foi instantânea.

Na primeira manhã ele me aguardava empertigado na porta do hotel, na cidade de Cambridge. “Miss Elaine, onde deseja ir?” me perguntou com seu inconfundível sotaque inglês. Falei que gostaria que ele me deixasse no centro histórico da cidade universitária. pois, iria apenas perambular, sem destino certo. Ele então me conduziu até as proximidades do mundialmente famoso “Kings College”, a escola dos filhos da monarquia e da aristocracia britânica. Desembarquei e comecei a caminhar. Logo, adentrei em uma igreja secular, que sem dúvidas era mais velha que o Brasil. Fiz o sinal da cruz e comecei a orar. No fundo da igreja percebi a presença silenciosa e protetora de Mr. Les. Havia me seguido. O seu olhar  era sempre vivo e inteligente, mas, observei que estava triste e pude perceber seus olhos marejados de lágrimas.

Percorri a encantadora cidadezinha universitária, observando tudo. Cambridge foi construída às margens do rio Cam, que junto com sua charmosa ponte dá nome a cidade: Cam+bridge. Aproveitei para visitar o “College” que abrigara Charles Darwin e muitos outros pontos interessantes. Ao final de minha excursão, como toda mulher que se preze, estava carregada de sacolas. Quando cheguei ao local combinado para retornar, Mr. Les, com sua pompa inglesa característica exclamou: “Oh! Pelo jeito foi uma manhã bem feliz para nossas lojas!” Sorri e expliquei que era meu material de trabalho. Livros.

Começamos uma agradável conversa e decidi ensiná-lo algumas palavras de português. Ensinei-lhe: “bom dia, boa tarde, até logo, muito prazer, etc.” Ele anotava tudo e prometeu-me estudar depois. Mas, o que se tornou a marca de nossa amizade foi uma certa palavrinha. Disse-lhe: “Olhe, vou ensinar-lhe uma expressão que serve para tudo em nossa língua, equivale ao OK de vocês, repita comigo: ‘Beleza’. Doutrinei, fazendo sinal de positivo. Ele falou arrastado: “Pelêêzzaaa”... gargalhei e repeti até ele aprender. Todo dia ao encontrá-lo ele me dizia: “Belêzzaa?”. E eu respondia da mesma forma.

No segundo dia, atrasei-me e perdi o café da manhã do hotel. Quando desci, Mr. Les me aguardava, recostado ao veículo. “Aonde vamos professora?”. Respondi: “Estou morta de fome, quero tomar o tradicional breakfast inglês”. Quando adentramos o restaurante, ele tomou a frente e não me deixou falar uma palavra. Explicou para todos os atendentes que eu era brasileira, encantado, com as profundas exclamações de espanto, emitidas pelos interioranos garçons. Sentei-me em frente a uma montanha de ovos, bacon, tomates e torradas. Ele então, pediu permissão para me fazer companhia, ao que eu acedi. Era um dia agradável de verão.

Contou-me, que já havia se casado duas vezes. A primeira esposa havia falecido, logo após dar à luz uma filha, que atualmente residia na Flórida, EUA. Ficara muitos anos viúvo e viera a se casar novamente, mas a segunda esposa veio a falecer duas semanas antes. Levei um susto! Exclamei: “Duas semanas?”. Ele com ar melancólico, respondeu: “Agora estou totalmente só. Trabalho para não enlouquecer!”. Pensei comigo: A força e fragilidade humana não têm fronteiras, somos iguais em toda parte.

Os dias transcorreram, visitei Birmingham, Stratford Upon Avon (a cidade natal do grande poeta Shakespeare) e finalmente chegou o último dia de seus serviços, ou melhor, dizendo, de sua companhia. Quando me deixou à porta do hotel, em Londres, falei brincando, como sempre o tratava: “Lorde Les (título nobre e respeitadíssimo na Inglaterra, concedido somente pela Rainha do Reino Unido), receba esse presentinho como sinal de agradecimento e amizade.” Entreguei-lhe então, uma caixa de bombons belgas, com um cartão onde dizia: “Você não está sozinho! Deus não abandona ninguém. Lembre-se disso... Obrigada!” Ele leu e grossas lágrimas escorreram de suas faces. Também chorei. Como se tivéssemos ensaiado, nos abraçamos e viramos as costas decididos, seguindo nosso caminho. Talvez para nunca mais nos encontrarmos... Beleza?



ELIANE BRITO é escritora, cronista e advogada. eliane@rodovalho.com.br

sexta-feira, 21 de maio de 2010

AUTO-TERRORISMO PSICOLÓGICO

São incomuns os casos de câncer em minha família. Excetuando uma tia, que desenvolveu um câncer de ovário e que agora está totalmente curada, não me recordo de mais nenhum caso. Mesmo assim, quando comecei a sentir uma dor aguda e persistente na mama direita, senti um medo enorme apoderando-se de minha alma. Passei uma noite em claro, pela dor e pelo terror psicológico, alimentados por mim. Não disse nada a ninguém e no dia seguinte pela manhã, segui para o consultório médico. A médica pediu todos os exames de rotina, ultra-sonografia, mamografia e eu insisti que ela pedisse uma ressonância magnética, pois não queria me arriscar. Três dias para fazer os exames, quatro aguardando os resultados. Vivi em suspenso durante uma semana.

Porém, deve ter sido uma das semanas mais profícuas de minha vida. Passei uma tarde inteira dentro de uma livraria, comprando todos os livros que tinha direito sobre o câncer. Descobri em profundidade o mecanismo da doença e como ela se desenvolve. Descobri as dietas recomendadas e fiquei até feliz, pois, uma série de prescrições recomendadas aos pacientes com câncer eu já sigo rotineiramente em minha vida. Por exemplo, uma coisa que me surpreendeu é que a maioria dos médicos recomenda que o paciente pratique uma atividade física, de médio a alto impacto. Isso para mim já é rotineiro. Recomendam que consuma-se pouca ou nenhuma carne, ponto pra mim. Pouco açúcar, ponto pra mim. Muitas verduras e frutas, ponto pra mim. Nada de álcool, ops!

Às vezes ficava até animada olhando as indicações, mas, a dorzinha ali me lembrava de que algo estava errado. Além do que, minha mente se recusava a alimentar pensamentos positivos. Meu cérebro trabalhava numa zona cinzenta, afastando todo e qualquer pensamento cor-de-rosa. Literalmente, eu trabalhava contra mim.

Chegava à noite em casa e começava a faxinar. Arquivei documentos, etiquetei, coloquei datas, organizei fotos, preparando tudo para, caso eu faltasse, deixar organizadinho. Comprei um monte de álbuns de fotografia e organizei uma caixa de fotos, que ficava guardada, etiquetando até por ano e mês cada evento. Como chorei! Nossa! Olhando minha vida desfilando ali, nas fotografias: minhas filhas bebês, batizados, aniversários, viagens, chorei horrores... Como a simples ameaça de adoecer ou até morrer, mexeu com minha cabeça... Discretamente, eu que não cozinhava há alguns anos, comecei a levar minhas filhas para a cozinha e ensinei-lhes a preparar pratos simples, como arroz, bife, macarrão. Vai que elas precisassem cozinhar no futuro?

No dia marcado fui buscar os resultados. Peguei os envelopes e com as mãos tremendo, corri para o estacionamento da clínica, tranquei-me dentro do carro e abri o envelope grandão da ressonância. Sei que isso é errado, mas, não resisti. Li, reli, respirei fundo e não entendi nada. Só a palavra “normal”, saltava da folha branca. Parece que está tudo bem, pensei... Abri os outros, “normal”, “normal”. Fiquei ali, mole, sentindo toda a tensão dos últimos dias esvair-se. Não é possível, e essa dor? Quando mostrei os resultados para a médica ela me perguntou se eu havia praticado alguma atividade física nos últimos dias. Lembrei que havia nadado muito. Ela então concluiu que era um trauma muscular, sem grandes conseqüências.

Saí do consultório radiante! De alguma forma, havia ganho uma nova chance e nesse processo, aprendera a valorizar minha vida, as pessoas que amo, minha saúde, as coisas simples do dia-a-dia. Descobri que quando sentimos uma ameaça à vida, ninguém pensa em bens materiais, posses, etc. Só nos lembramos das pessoas que amamos. Da vida, realmente, só levamos o amor. Grande, imenso e profundo.



ELIANE BRITO, é escritora, cronista e advogada. eliane@rodovalho.com.br

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Evitando contato com Ets.

“Há uma grande possibilidade de existência de vida fora da terra – mas os humanos fariam bem em evitar qualquer contacto com extraterrestres, defende o físico britânico Stephen Hawking.” (Estadão).



O famosíssimo e respeitado astrofísico Stephen Hawking, fez a advertência transcrita acima. Eu acabara de entrar em casa e estava começando a assistir o Jornal Hoje, quando Sandra Annenberg, com cara muito séria, leu o “aviso” do cientista. Juro por Deus! Caí na gargalhada! Achei tão esdrúxula e diferente a notícia que comecei a rir. Depois, como o telejornal prosseguiu normalmente, percebi que a coisa era séria. Tem cabimento? Um cientista da estatura desse homem alertando para esse tipo de coisa? Cogitei duas possibilidades... Ou realmente era algo com o qual devêssemos nos preocupar ou ele estava ficando totalmente esclerosado. Aí, certo pavor me envolveu... Pensei rapidamente: _Tem lógica! Quem foi o maluco que enviou essas sondas e essas mensagens para o espaço? E agora? Tremi de medo.

Não bastasse termos de lidar com o Lula, com o Serra, com a Dilma (uma perfeita marciana...) ainda temos que nos preocupar com uma invasão eminente. Aja stress. Será, Sr. Stephen Hawking, que não poderemos ter um pouco de PAZ nesse planeta? Isso por que nem mencionei os políticos locais. Mas, a grande preocupação do físico é com a possibilidade de virmos a ser explorados, digo nós terráqueos... Ele cita o exemplo de Cristóvão Colombo, quando chegou as Américas. Fala que não passaríamos de colônia de exploração. Ao que me conste, isso não alteraria grande coisa na minha realidade. Quem, em santa consciência, pode levantar a mão e dizer que não é explorado? Eu sou todo o dia. Pelos juros extorsivos dos bancos, pelo sistema tributário abusivo e maluco do nosso país, pelo desrespeito que campeia solto por toda parte. Pelo alto preço de tudo. É só exploração!

Hawking avisa que é bom evitar contato com extraterrestres. Olhe, é bom evitar contato com tanta coisa: Gripe suína, políticos, maçaneta de ônibus, vaso sanitário público... A lista é enorme. Mas, sempre estamos mantendo contato e, o melhor, sobrevivemos. Quem nasce brasileiro Sr. Stephen, é antes de tudo um sobrevivente! Chego até a arriscar, se os ETs qualquer dia desembarcarem na Terra, aonde eles vão se alojar.? Aqui. Aqui nessa terrinha cheia de sol e de gente de couro duro. Couro tratado na inflação, curtido na chibata, curado no sal grosso e disposto a enfrentar tudo... Até ET. O que brasileiro não suporta é ficar sem uma “carninha” na mesa, sem uma boa mistura e tragédia das tragédias, sem uma cerva gelada. O resto pra nós é mole. Vou mandar um recado aí, pra esses europeus branquelas e medrosinhos: Se eles (os Ets) aparecerem, mande-os pra cá! Rapidinho eles estarão aclimatados e totalmente inofensivos. E se brincarem, acabam dentro do caldeirão da feijoada!



ELIANE BRITO

quarta-feira, 31 de março de 2010

Vivendo com borbulhas! “Nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário.” ( Napoleão Bonaparte, sobre o Champagne)

Fomos apresentadas no dia do meu casamento. Ali, naquele momento tive a certeza de que ela me acompanharia por toda a vida. Apaixonei-me instantaneamente e maravilhada admirei sua cor, suas borbulhas, o jeito suave como ela se escorregava pela minha garganta. Calma... Refiro-me ao champagne. Devo, porém, confessar, que tenho uma predileção pela viúva (quem conhece compreende) e sempre que posso  delicio-me com uma taça.

Nosso encontro não se deu de forma tão tardia, afinal, casei-me praticamente adolescente. Entretanto, naquele momento uma certeza cristalizou-se em minha alma: Era amor eterno. Nosso casamento era pra sempre. As relações humanas são inconstantes, muitas vezes findam sem motivo, porém esses pequenos prazeres podem nos acompanhar a vida inteira. Os espumantes em geral são um deles. Diz à história que foi descoberta pelo Abade Don Pérignon, porém, temos relatos de vinhos frisantes e espumantes na Europa desde o séc. XII. O famoso abade (marca hoje de um dos melhores champagne do mundo), simplesmente aprimorou o processo de fabricação. Digamos assim, facilitou o caminho para que ela viesse a ser fabricada em grande escala.

Como toda apaixonada tratei de descobrir tudo sobre o foco de minhas atenções. Estudei, pesquisei e até, visitei vinhedos pelo mundo afora... Nas palavras de Tilar Mazzeo, citando o jovem e devasso poeta L. Byron: “a única coisa que as mulheres podem ser vistas comendo é salada de lagosta e bebendo champagne.” Devemos admitir que seja uma idéia bastante atraente. Assim, no curso de minha vida, aprendi a apreciar esse líquido que nos torna mais belas e resplandecentes.

Essa idéia (de que eu adoro champagne) grudou-se de tal forma na minha personalidade, que fatos curiosos acontecem. Por exemplo, em meu último aniversário só ganhei o precioso líquido. Aqui, cabe um esclarecimento: Gosto sim, desse néctar das uvas, mas também aprecio roupas, jóias, sapatos, perfumes, bombons, etc. Outro fato curioso é que as pessoas pensam que só por que se conhece um pouco sobre vinhos espumantes, entendo tudo de vinhos. Aqui cito meu pai, sempre que o indagam sobre casamento (afinal, ele tem quase 50 anos de casado) ele afirma que não entende nada de casamento... Quando o contestam, ele esclarece: _ Olhe, de casamento entendo pouco, afinal só casei-me uma vez, do que eu entendo bem é de Dona L., minha esposa, essa conheço em profundidade. Assim, aproveitando o gancho explico: Entendo mesmo é de champagne, de vinhos, conheço muito pouco...

Um dos aspectos que acho curioso na indústria do champagne e o fato de ter, mesmo no séc. XVIII, muitas mulheres á frente dos negócios. Muitas viúvas inclusive. Após as guerras napoleônicas, por exemplo, a viúva Clicquot, conseguiu dominar totalmente o mercado Russo, transformando sua marca em um ícone de luxo e ostentação nas cortes do Ksar. Até hoje, os povo russo prefere essa marca, em detrimentos de outras. O fato é que a champagne (e aqui uso o termo no feminino) absolutamente, não é uma bebida feminina. Ocorre que, nós mulheres, amamos aquelas taças em formado “flute” e os homens também, admitam! Quando pilotamos uma dessas taças nos sentimos especiais, doces, românticas, poderosas. O que deve ser o objetivo de todo vinho. Não existe som mais doce na terra do que o espocar de uma garrafa. O estampido já nos deixa alerta, e quando o “Créman” escorre pelo gargalo e se aloja no fundo da taça, com suas diminutas bolhas subindo numa sinfonia perfeita em direção às nossas lindas boquinhas. Ah! É o máximo!!! Para mim, é uma necessidade absolutamente básica. E, é por isso que encerro esse artigo, espocando uma bela garrafa de rótulo laranja, talvez a primeira, talvez não. Voilà!!!

ELIANE BRITO, é escritora, cronista e advogada. eliane@ rodovalho.com.br.