Como amamos essas criaturinhas chamadas “cachorros”. Eu, pelo menos. Já sofri muito, muito mesmo por causa dessa afeição. Na minha história recente de vida, destaco duas grandes perdas: A primeira, uma cadelinha aristocrática da raça York Shire a quem denominei “Paris”. O segundo, um cão inteligente chamado Prince. Minha história com Paris começou em uma ida ao shopping em um sábado à tarde, ao passar em frente a um pet shop, naqueles chamados “cinco minutos de bobeira”, resolvi adentrar. Assim que há vi, foi paixão a primeira vista. Comprei imediatamente, cuidei, vacinei, mimei, amei demais.
Viajo muito e descobri que isso é perigoso quando se tem cachorros. Ou você organiza suas viagens para que eles caibam nelas ou não viaje. Resolvi viajar e paguei caro por isso. Pesquisei o melhor hotel de cachorros da cidade. E, cruelmente, digo, realmente me sinto cruel quando lembro, hospedei-a ali. Quase não aproveitei a viagem, ligava sem parar para ter notícias, meu sexto sentido já me alertava de que havia algo errado. Dito e feito. Quando a peguei, pelo seu olhar triste percebi que não havia sido fácil a experiência. Em pouco menos de um mês a perdi.
Ela havia sido contaminada com um vírus letal, parecido com o HIV dos humanos e apesar de todas as minhas tentativas faleceu. No dia do falecimento (ela já estava internada há dois dias) mal dormi à noite, lembrando-me de seu rostinho (se é que isso é palavra apropriada para se referir a cachorros). Levantei cedo e antes de qualquer compromisso, segui para a clínica. Assim, que entrei a veterinária se aproximou e falou de supetão: Estava tentando te ligar! Infelizmente ela não resistiu! Faleceu. Desabei ali mesmo na sala de espera. Não chorei. Urrei! Preparei o corpo, sepultei no fundo de meu quintal e prometi a mim mesma que nunca mais teria cachorros.
Aí conheci um príncipe. Pois essa foi a primeira palavra que me veio a mente quando o vi. Lindo, com os pelos caramelos, quase dourados, resolvi abreviar o nome e chamá-lo de Prince, utilizando a língua inglesa. Da raça Lhasa Apsu, tornou-se meu companheiro inseparável de todas as horas. Quando chegava a casa, minha primeira palavra, meu primeiro carinho era pra ele. O resto da família se sentiu absolutamente excluído dessa relação. Mas ele era tão charmoso, tão especial, que até o seu maior opositor passaria a admirá-lo. Eu, Sempre que chegava a casa o cumprimentava: _ Prince, eu te amo! Entendeu? Eu te amo meu príncipe! E, ficávamos horas no chão. Eu, olhando dentro dos seus olhinhos negros e fazendo um interrogatório que beirava a tortura: Fala. Fala que vc me ama! Fala eu estou mandando! E ele ali, falando com os olhos, me lambendo o rosto, me dando leves mordidinhas. Eu o abraçava e gritava: louco, vc é um louco! Mas, eu te amo!
Aonde quer que eu estivesse na casa, ele sempre vinha e se deitava aos meus pés. E, ficava ali, humilde, me olhando. Até que um belo dia, a tragédia... Deixaram a porta aperta e o doidinho fugiu! Quase enlouqueci. Fiquei dois dias sem trabalhar andando pelas ruas, gritando seu nome. Chorando, me assustando a cada barulhinho achando que ele descobriria o caminho de volta. Demorei a aceitar. Demorei a acreditar que nunca mais veria aquela criatura tão especial.
Mas, com o passar dos anos cada vez uma constatação se cristaliza na minha alma. A vida é um dispersar. Estamos sempre perdendo coisas, sentimentos, pessoas. Nesse redemoinho que é viver, as coisas nos alcançam por um minuto, que pode ser eterno e se vão. Não temos como reter nada. Quando elas se vão pensamos que vamos morrer. A dor é grande e não existe luz no fim do túnel. Mas a dor também se dispersa. E, no final, fica um sentimento de aprendizado. A incrível descoberta de quem realmente somos através da leitura de nossos sentimentos. Estamos aqui somente para aprender a amar. Essa é a grande lição. Assim, sigo... Aguardando meu dispersar.