quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Sexo tântrico e outras coisitas más...


Sábado passado fui a um charmoso barzinho em Goiânia. Grupo grande, todos alegres, cerveja geladíssima, papo animado. Teria sido uma noitada típica, não fosse um incidente, que fez com que a conversa girasse a noite inteira sobre sexo. Eu como sempre, gastei horas debatendo com meus amigos, sobre os enfoques que o ato sexual tem através do mundo. A forma como a humanidade vê o ato sexual e a falta de maturidade com que alguns jovens iniciam a vida sexual hoje em dia.
Bom, vou saciar a curiosidade de vocês. Já posso até ver a cena! Você aí do outro lado, grudadinho na cadeira, olhos arregalados, querendo saber que papo de sexo é esse. É meus amigos; o assunto é instigante e prende nossa atenção.

Tudo aconteceu assim: Sentada em uma mesa um pouco a frente da nossa, estava também um grupinho de vários casais batendo papo e não pude deixar de reparar, bebendo vodca, com uma garrafa já pela metade. Eu realmente não fui a primeira a ver a cena. Quem deu o alarme foi um amigo, que se sentava de forma privilegiada, defronte ao espetáculo. Certa senhorita, com cara, tenho de admitir, de “moça de família” (dessas que se você vê na rua, pensa logo que foi muito bem criada), começou a bolinar o namorado, esfregando a mão por cima da calça jeans, pegando o “órgão sexual “ com a maior cara de pau (literalmente). Os dois se sentavam bem próximos, de forma que os amigos achavam que ela estava apenas com a mão nas pernas dele, aconchegados. Mas nós, que estávamos um pouco mais recuados, podíamos ver com clareza a cena. A mãozinha dela trabalhando, sem parar e o rapaz, com cara lerda, safada, recostado tranqüilo acompanhando a conversa do restante do grupo, como se nada estivesse acontecendo.
Minha mesa entrou em polvorosa. Passamos a acompanhar a cena com atenção, esperando um desenlace, ou quem sabe, um orgasmo mesmo! Mais nada. Todos os tipos de brincadeira surgiram, criamos até uma banca de aposta, para ver em quantos minutos o cara ia gozar. Uma amiga mais moralista começou a ficar indignada, exclamava com raiva contida: - Por que esses dois não procuram um motel? Que absurdo! Outra amiga mais liberal argumentava: _ Nossa, isso é super comum, essa galera anda doida, transa em qualquer lugar.
Os homens acompanhavam a cena compenetrados, com aquela cara que homem faz quando vê um colega se dando bem, de paisagem... Mas, um não conteve um comentário indignado, quando a protagonista do evento, notando o alvoroço em nossa mesa, virou-se, encarou a todos nós desaforadamente e continuou o serviço, com a maior tranqüilidade. O mundo caiu! Os homens exclamavam! “É. Não dá mais pra saber quem é quem... a mulherada está com um fogo!” E por aí foi...
Eu como sempre comecei a filosofar. “Expliquei para eles como o Yôga via o sexo entre duas pessoas.” Era um ato sagrado, que recriava o ato primordial de Deus. E nós, como seus semelhantes, também tínhamos esse poder. Essa atitude íntima entre um homem e uma mulher, liberava uma energia tão grande, que poderia gerar um outro ser humano e até mesmo modificar a vida de uma pessoa, realizando uma grande transformação pessoal. Tanto isso é verdade, que no Yôga, no budismo (em algumas correntes) e outras religiões, um dos caminhos para se alcançar a iluminação ou o nirvana, é o sexo ritual.” Existe uma cerimônia no Yôga, denominada Maithuna, que é de um simbolismo e de uma profundidade tremenda. Exclamei, e fui, relatando essas práticas orientais...
Uma amiga perguntou: _conta mais, como é essa cerimônia? Então continuei. O casal, de banho tomado, chakras massageados e perfumados, pêlos depilados ou pelo menos aparados, acende uma vareta de incenso, sentando-se de frente um para o outro, completamente nus e meditam por alguns minutos. Depois, olhos nos olhos, ficam durante alguns minutos fazendo a respiração que consiste de, bem próximos, tentarem respirar em harmonia, um sorvendo o alento do outro. Muitos carinhos, abraços apertados para estimularem os chakras, principalmente o cardíaco,começam o intercurso sexual, que pode durar horas, pois, no sexo tântrico, recomenda-se retardar o máximo possível o orgasmo. Existem técnicas que auxiliam nisso.
Os amigos empolgados falaram: " Gostei! esse negócio é bom!” Enquanto isso a moça e o rapaz, que deram início a essa conversa, Se levantaram despediram de todos e foram embora. Só Deus sabe pra onde. Nós ali, não tínhamos dificuldades para imaginar aonde aquela noite ia acabar... E a conversa continuou solta. Pois, quando a moça se levantara, vimos que ela não poderia ter mais do que dezesseis ou dezessete anos. Ficamos chocados! Eu como adoro formular uma teoria sobre tudo. Argumentei que o sexo hoje era algo totalmente descartável. Nessa cultura consumista em que vivemos, as pessoas não valorizavam mais esse ato tão lindo e poderoso. Tenho de concordar que no passado se supervalorizava. Criando conotações e conseqüências dramáticas para uma necessidade do ser humano. Quantos não morreram na fogueira por suas práticas sexuais? Mas, banalizar? Aí também eu não concordava...
E o debate continuou, noite à dentro, cada hora surgia uma teoria mais estapafúrdia que a outra. E o chopinho chegando “mofado”, picanha na chapa, fumegando... as horas correram rápidas, como só acontece por aqui. No final da noite, um amigo chegou à seguinte conclusão... Quer saber a verdade? Exclamou, levantado o copo de chope: -Sexo é bom de todo jeito...tântrico, sagrado, o diabo a quatro e até “goiano” que é o melhor jeito!
O riso foi geral! Era isso mesmo, argumentou outro: _ Até quando é ruim é bom!
E tenho dito!

Eliane Brito é escritora e Advogada.

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