terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

OS ANJOS DA GUARDA DE NOSSAS CRIANÇAS


“Santo anjo do senhor,
Meu zeloso guardador,
Se a ti me confiou a piedade divina,
Sempre me guarde, rege, governa, ilumina
.”

Quero falar sobre a responsabilidade de cuidado e proteção dos pais do nosso Brasil. Ano passado, fiquei surpresa com o número de pais que haviam esquecido seus filhos dentro de veículos. Foram três casos que eu me lembre. É triste e alarmante na minha concepção. Retrata o desrespeito e o descaso desses genitores com o que temos de mais importante. Nossas crianças...

Nosso sistema legal classifica esses “episódios” como crime culposo. A lei, parte do pressuposto de que o próprio resultado do crime, já traz em seu bojo a punição. Muitos discordariam de mim. Diriam. Tenha piedade. A pena já foi imposta. Mas, eu não consigo me calar... O sangue dessas crianças grita e apela por socorro. Até quando vai haver tanta negligência e despreparo no cuidado com os nossos futuros cidadãos? Com esses pequenos brasileirinhos que um dia construirão o nosso país.

Há muito tenho levantando essa bandeira em roda de bate-papo com amigos. O brasileiro médio, o cidadão comum, encara a paternidade com despreparo. Brincando com a vida dessas crianças indefesas. Posso ver isso a todo o momento. No trânsito, onde o pai carrega seu filhinho de dois anos, na frente da motocicleta, sem capacete, sem respeitar nenhuma norma de segurança. Nos veículos, aonde as crianças são transportadas no banco da frente, sem cintos de segurança, nem idade legal que é de dez anos. Nos clubes recreativos, onde esses guardiões legais passam o dia inteiro sob o sol, bebendo litros e litros de cerveja e as crianças nadam pelas piscinas sem nenhum acompanhante. Certa ocasião tive a oportunidade de salvar uma menininha de aproximadamente três anos de ser afogada. Quando a devolvi para a mãe, que já estava devidamente alcoolizada, ouvi a seguinte exclamação: - Deixa esse troço, aí!

Ela usou a expressão absolutamente correta para definir sua concepção de uma criança... É uma coisa, um objeto incômodo que precisa ser transportado de um lado para o outro, muitas vezes com menos cuidado do que o que teríamos com um vaso, ou um objeto valioso. A que reportaríamos esse descaso? A falta de educação? Cultura? Desamor? Talvez todos esses fatores trabalhando juntos para perpetuar “acidentes” como esses. Não podemos negar, acidentes realmente ocorrem. Fatos imprevisíveis, que se tomando todas as medidas de precaução e ainda a despeito delas, acontecem. Mas, nesses episódios divulgados pelos jornais, o que fica no final é um gosto amargo na boca. Um pensamento martelando o cérebro, dizendo: Cuidado! Cuidado! Onde está o cuidado desses protetores naturais, desses guardiões, considerados os melhores pela mãe natureza.

No caso dos sufocamentos em veículos, algumas pessoas argumentaram comigo que o problema era da película de proteção do carro, que escurecia de tal forma o interior do mesmo, impossibilitando o socorro. Achei muito simplista esse raciocínio... O problema é a película nos olhos das pessoas. Vamos retirar essa película que obscurece nossa visão e nos diz que tudo é perdoável. Que a culpa foi do filme plástico. E a criança? Como é que fica?
Talvez o ser humano esteja rompendo mais uma barreira para diferenciá-lo dos animais. Deixando sua prole exposta aos perigos da natureza cruel. Rompendo assim com um instinto animal de proteção e cuidado. E o pior. Comprometendo seriamente o futuro daqueles que guiarão nosso país. Que ensinarão para as próximas gerações, os nossos netos, uma lição apreendida à duras penas. A lição do desamor e da irresponsabilidade. “Quem ama cuida”.

ELIANE BRITO.
É escritora e Advogada.

Crônica publicada no jornal "o popular" do dia 04 de setembro de 2008. Coluna opinião.

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