quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A FORÇA ESTÁ EM VOCÊ!

Fiquei alguns segundos tentando identificar seus sentimentos (técnica que havia aprendido com a prática do Yôga) e rapidamente deduzi: “Ela deseja morrer, é isso”. Como uma observadora distante, pois, era apenas uma amiga, não entendi. Sua vida parecia perfeita. Tinha uma família, carreira, casa maravilhosa em condomínio de luxo, tudo que uma mulher poderia desejar. Impotente, somente constatei que ela queria morrer.

Essa certeza se cristalizou em meu espírito e comecei a conversar com ela. Ela estava possuída por um monstro, muito comum na sociedade moderna, talvez mais comum do que na antiguidade, chamado “depressão”. Contou-me chorando que passava horas do dia imaginando técnicas sofisticadas de tirar a própria vida. Rechaçara várias e por fim, optara por uma que achara mais simpática. Entupir-se-ia de calmantes, encheria a banheira e tinha certeza, morreria afogada. Segundo ela, o psiquiatra ao lhe receitar os remédios, a alertara que caso viesse a ingerir “acidentalmente” todos os comprimidos da caixa, não morreria, simplesmente dormiria por alguns dias. Explicara-lhe que era um remédio seguro. Porém, dentro de uma banheira, não haveria segurança.

Mas, ali, naquele momento, quem não estava segura era eu. Sempre fui uma referência no que diz respeito a bom-humor e alegria. Entretanto, tinha de admitir, não sabia o que fazer. Como ajudá-la? Afirmei-lhe que essa companheira indesejável que ela adotara: “A tal dona depressão”. Tinha de ser expulsa da sua vida de qualquer maneira. Ela jamais deveria ter aberto a porta de sua casa, de sua vida, para essa dona. Ela me contou que agora era impossível, sempre que acordava essa senhora mal-educada, estava ali, com sua cara soturna lhe observando. “Quando percebi me acompanhava por todos os lugares, ditava minha rotina, controlava meus passos”. Concluiu. Animei-a um pouco e me retirei, com o coração na mão de preocupação.

Dias depois viajei para Aruanã. Ali, a providência divina, Deus, ou seja, lá o que for me colocou frente á frente com “Lars Grael”, o campeão mundial e medalhista olímpico de Iatismo, que perdeu uma perna em um acidente no mar. Perguntei-lhe: “Lars, quando você estava ali caído e depois no hospital, tendo de conviver com um trauma tão grande, onde você encontrou forças? Como conseguiu reconstruir sua vida e se recuperar?” Ele falou sobre várias coisas, sobre Deus, sobre as orações que recebera, pensou e por fim concluiu: Existe uma força dentro de nós, não posso dar um nome específico, talvez seja Deus, mas, todos têm a capacidade de reagir. De seguir adiante.

Voltando a Goiânia, relatei essa conversa a minha amiga e lhe afirmei. Vamos lutar! Vamos procurar essa força! Levante dessa cama e quando essa Dona depressão lhe mandar morrer, sorria e dê de ombros. Ela reagiu, topou o desafio. Voltou a praticar exercícios, começou a se alimentar melhor, reduziu paulatinamente as doses de calmante, voltou a rezar (pois, havia parado totalmente). E assim, a mudança foi se operando. Expulsou a Dona depressão de sua vida, jogou suas tralhas na rua, deu-lhe com a porta na cara e resolveu: “Quero viver”.

A cabala nos ensina que Deus, no primeiro dia, quando criou a terra, viu que o que ele havia feito era “bom”. Talvez, esse seja o sentido da vida: Ela é simplesmente boa. E é por isso que convidei essa dona, “dona vida” para sempre me acompanhar, para me ensinar e orientar no caminho. Ela sempre está comigo e eu a louvo e bendigo. Descobri que minha amiga é forte e que essa força também vive em mim e em você. Shalon.





ELIANE BRITO é escritora, cronista e advogada. eliane@rodovalho.com.br

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