sexta-feira, 8 de abril de 2011

A VIDA E SEU ETERNO DISPERSAR

Como amamos essas criaturinhas chamadas “cachorros”. Eu, pelo menos. Já sofri muito, muito mesmo por causa dessa afeição. Na minha história recente de vida, destaco duas grandes perdas: A primeira, uma cadelinha aristocrática da raça York Shire a quem denominei “Paris”. O segundo, um cão inteligente chamado Prince. Minha história com Paris começou em uma ida ao shopping em um sábado à tarde, ao passar em frente a um pet shop, naqueles chamados “cinco minutos de bobeira”, resolvi adentrar. Assim que  há vi, foi paixão a primeira vista. Comprei imediatamente, cuidei, vacinei, mimei, amei demais.

Viajo muito e descobri que isso é perigoso quando se tem cachorros. Ou você organiza suas viagens para que eles caibam nelas ou não viaje. Resolvi viajar e paguei caro por isso. Pesquisei o melhor hotel de cachorros da cidade. E, cruelmente, digo, realmente me sinto cruel quando lembro, hospedei-a ali. Quase não aproveitei a viagem, ligava sem parar para ter notícias, meu sexto sentido já me alertava de que havia algo errado. Dito e feito. Quando a peguei, pelo seu olhar triste percebi que não havia sido fácil a experiência. Em pouco menos de um mês a perdi.

Ela havia sido contaminada com um vírus letal, parecido com o HIV dos humanos e apesar de todas as minhas tentativas faleceu. No dia do falecimento (ela já estava internada há dois dias) mal dormi à noite, lembrando-me de seu rostinho (se é que isso é palavra apropriada para se referir a cachorros). Levantei cedo e antes de qualquer compromisso, segui para a clínica. Assim, que entrei a veterinária se aproximou e falou de supetão: Estava tentando te ligar! Infelizmente ela não resistiu! Faleceu. Desabei ali mesmo na sala de espera. Não chorei. Urrei! Preparei o corpo, sepultei no fundo de meu quintal e prometi a mim mesma que nunca mais teria cachorros.

Aí conheci um príncipe. Pois essa foi a primeira palavra que me veio a mente quando o vi. Lindo, com os pelos caramelos, quase dourados, resolvi abreviar o nome e chamá-lo de Prince, utilizando a língua inglesa. Da raça Lhasa Apsu, tornou-se meu companheiro inseparável de todas as horas. Quando chegava a casa, minha primeira palavra, meu primeiro carinho era pra ele. O resto da família se sentiu absolutamente excluído dessa relação. Mas ele era tão charmoso, tão especial, que até o seu maior opositor passaria a admirá-lo. Eu, Sempre que chegava a casa o cumprimentava: _ Prince, eu te amo! Entendeu? Eu te amo meu príncipe! E, ficávamos horas no chão. Eu, olhando dentro dos seus olhinhos negros e fazendo um interrogatório que beirava a tortura: Fala. Fala que vc me ama! Fala eu estou mandando! E ele ali, falando com os olhos, me lambendo o rosto, me dando leves mordidinhas. Eu o abraçava e gritava: louco, vc é um louco! Mas, eu te amo!

Aonde quer que eu estivesse na casa, ele sempre vinha e se deitava aos meus pés. E, ficava ali, humilde, me olhando. Até que um belo dia, a tragédia... Deixaram a porta aperta e o doidinho fugiu! Quase enlouqueci. Fiquei dois dias sem trabalhar andando pelas ruas, gritando seu nome. Chorando, me assustando a cada barulhinho achando que ele descobriria o caminho de volta. Demorei a aceitar. Demorei a acreditar que nunca mais veria aquela criatura tão especial.

Mas, com o passar dos anos cada vez uma constatação se cristaliza na minha alma. A vida é um dispersar. Estamos sempre perdendo coisas, sentimentos, pessoas. Nesse redemoinho que é viver, as coisas nos alcançam por um minuto, que pode ser eterno e se vão. Não temos como reter nada. Quando elas se vão pensamos que vamos morrer. A dor é grande e não existe luz no fim do túnel. Mas a dor também se dispersa. E, no final, fica um sentimento de aprendizado. A incrível descoberta de quem realmente somos através da leitura de nossos sentimentos. Estamos aqui somente para aprender a amar. Essa é a grande lição. Assim, sigo... Aguardando meu dispersar.

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