sexta-feira, 13 de junho de 2008

AMORES POSSÍVEIS



Anais nin, escritora, disse o seguinte: “A vida se retrai ou se expande na proporção da nossa coragem.” Achei a frase interessante e oportuna, pois recordei-me de várias conversas que tive, nesses dias que antecederam ao “dia dos namorados” com amigas jovens, solteiras e sozinhas. Perguntei o porquê dessa situação e as desculpas foram diversas. Algumas alegaram que eram muito independentes e não queriam se prender a ninguém, outras que não tinham muito tempo e ainda que não existem homens disponíveis no mercado e por aí foi...Ao final, conclui com precisão e espanto, que todas cultivavam amores impossíveis.
Uma amiga me relatou que se apaixonara por um rapaz e quando o pressionara para iniciarem um namoro ele afirmou que era Gay. Outra me disse que era perdidamente apaixonada por um colega de trabalho casado e que não via como esse romance poderia se concretizar. Uma terceira me disse que gostava de um rapaz que residia em outra cidade...dificuldades e mais dificuldades. Na minha experiência como mulher e como mãe, pude identificar um sentimento que de vez em quando vejo no rostinho de minhas filhas. Medo. Que lembrando a frase acima, é o antônimo de coragem. Levando a essa contração da vida emocional dessas jovens.
Essas moças na verdade, lutam contra a timidez, com seus próprios limites, com a incapacidade de se envolverem em uma relação mais profunda. A realização pessoal exige sacrifícios. Todos sabem que um relacionamento envolve mudanças, quebra de paradigmas, reestruturação. Quando nos relacionamos com quaisquer pessoas, utilizamos nossas habilidades de comunicação, simpatia, equilíbrio e estabilidade emocional. São relações delicadas que exigem acima de tudo amor. Ops! Não queria dizer essa palavra tão desprestigiada nos dias de hoje, mas, saiu! Amar nesses dias que vivemos é totalmente incompreensível para esses jovens, que segundo os especialistas, são os mais individualistas e egoístas de toda a história.
O jovem hoje em dia não aceita mudanças. Nada que o tire de uma rotina de prazer e divertimento. Nossa sociedade calcada no hedonismo, rejeita tudo que possa representar dificuldades. Claro, pois, todo relacionamento envolve o bom e o ruim. O prazer e a dor. Cria limites. Percebemos claramente, que assumir responsabilidades, por si mesmo e pelos outros é difícil. E um relacionamento gera responsabilidades, nem que seja pelo sentimento do outro. Pela possibilidade de feri-lo.
Essa geração pós- ditadura aprendeu a se calar, se proteger e isso tem refletido até nas escolhas amorosas. É preciso se entregar, se arriscar, para mudar o mundo e ser feliz. É preciso se permitir sofrer, chorar, se for o caso. Quando se escolhe o impossível, fica a impressão que é uma fuga... E o pior de si mesmo. Escolher um amor “possível” é um ato de coragem. E Amar pode acabar sendo a aventura mais radical de sua vida.

Eliane Brito, mãe, amiga, escritora e advogada.

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