quinta-feira, 3 de julho de 2008

DEUS É DEZ!



Na última terça-feira, tive uma noite bastante agitada. Não... não foi balada não... Tudo começou assim. Minha mãe pediu-me para levá-la à Missa-show do padre Marcelo Rossi no santuário do divino pai eterno na cidade de Trindade. Papai se recusou terminantemente a enfrentar a aventura, então, um pouco a contragosto, concordei. Perguntei que horas sairíamos e ela me disse que a missa estava marcada para as sete e meia da noite, mas, devíamos sair em torno de cinco horas da tarde. Medida de precaução, pois, eram esperadas em torno de um milhão de pessoas na “balada”. Dito e feito. Após duas horas apertando e soltando a embreagem para andar dezessete quilômetros, chegamos a Trindade. No caminho, para me distrair, fui observando as centenas de romeiros que faziam o percurso a pé. E alguns realmente me comoveram. Havia pessoas bem idosas, mulheres carregando crianças (o que sem dúvidas, fazia com que o sacrifício ficasse mais árduo) pessoas andando com dificuldades, devido a problemas nas pernas, etc... A cada quilômetro fica uma estação, lembrando a via crúcis de Jesus, com pinturas feitas por Siron Franco. Confesso que não estava preparada para o que encontrei ao chegar ao Santuário. Na parte dos fundos, foi armado um grande palco, que não ficava nada a dever aos palcos de grandes cantores brasileiros. Enorme, com toda uma parafernália eletrônica, dois telões se abrindo para uma praça que estava tomada de fãs. Eu como sou bastante adaptável, já comecei a me animar. Dei uma volta, observando as rodinhas animadas, observei os barzinhos que circundavam a praça e pensei: _Bom, já que estou aqui, vou tomar uma cervejinha. Que nada! Nenhum barzinho vendia cerveja. O evento era gospel. A Alegria vai fluir toda de Jesus! Conjeturei. É isso aí. Descobri que as pessoas que estavam próximas ao palco, chegaram no dia anterior para garantirem seus lugares... que loucura! Padre Marcelo era um verdadeiro pop star.
Começou uma oração comandada por um padre que, mamãe falou que era o pároco lá de Trindade. A galera foi se animando. Algumas carolas apertavam o terço contra o peito e choravam. Orando com fé e desespero tremendos. Era uma cena bem interessante para mim, que sou um pouco cética. Um helicóptero então começou a sobrevoar a multidão. E comecei a ouvir um urro surdo que foi subindo, subindo e dominando tudo. Tinham homens por ali, mas, as vozes das mulheres sobrepujavam. Uma senhora que estava ao meu lado, segurou minha mão com força, como se fossemos unidas em alguma irmandade e falou entre histérica e sussurrante, com os olhos bem arregalados: Ele chegou! Eu imbecilmente perguntei? _Quem? (na hora achei que era o próprio Jesus). Ela respondeu:
_Padre Marcelo, uai!
Ah! Pelo telão, via a cara ensaiada que os outros padres postados no palco faziam... Sabe aquela cara de perdedor do Oscar? Que o cara ensaia a semana inteira na frente do espelho... Cara de paisagem. Um sorriso forçado, com ares de natural na boca. Um balançar displicente de cabeça para a multidão, um ar de condescendência. Dizendo assim: Está tudo bem! Eu estou totalmente controlado. Não ligo que vocês gostem mais desse padre... tal. Tudo mentira! Percebi claramente que eles ficavam incomodados... Que humildade que nada! Eles queriam ser adorados daquela forma. Os gritos foram aumentando num crescente. O Padre que comandava a reza parou tudo e falou: _Meus irmãos. Está parecendo até que vocês não vieram à missa. Está parecendo que vocês estão aqui só pra ver uma pessoa... Foi ele falar isso e a multidão começou a gritar o nome do ídolo...Gritou, gritou, até que o próprio entrou no palco. Muito simpático e sorridente, já entrou cantando, foi uma loucura! A histeria coletiva me contagiou... Comecei a cantar e a dançar também...”Erguei as mãos e daí glória a Deus”... “ Tem anjos voando nesse lugar, no meio do povo em cima do altar, subindo e descendo em todas as direções...” Eu que achava que não sabia música nenhuma, sabia várias...
Padre Marcelo cumpriu direitinho seu papel. Cantou e dançou muito. Era alto e carismático dominando totalmente a multidão. Fez a galera se divertir e rezar. E não tinha só velhos não... Observei muita gente jovem, participando ativamente. No final, tinha até me esquecido que era um evento religioso. Ficou só um saldo de alegria. Não é que a vida é cheia de surpresas? Encerrou o show com uma música que eu não conhecia. “Deus é dez”! Aprendi rapidinho e tenho que concordar, nos dias de hoje Deus é nota dez, em todos os sentidos.

Eliane Brito é escritora, advogada e pronta pra se divertir em qualquer situação.

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