segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

NOITE FELIZ!

dizia minha avó: “O melhor da festa é esperar por ela.” Com o natal não é diferente. Nesses dias que antecedem a véspera do nascimento de Jesus, a agitação e os preparativos dominam nossas vidas. “Menu” da ceia a ser definida, decoração natalina a ser montada, lista de presentes, convidados... Nesse ponto é melhor fazer uma pausa. Aí começam todas as nossas dificuldades frente à família moderna.
Com os novos arranjos familiares, uma série de personagens vai se acoplando as famílias originais, gerando uma verdadeira engenharia doméstica, para acomodar os agregados e dissidentes e finalmente tentar ter uma “noite feliz”. São enteados, madrastas, padrastos, namoradas, que precisam ser devidamente recepcionados sem ofender ou gerar dissensões na família. Ufa! É um esforço hercúleo. Telefonemas e telefonemas são trocados... “Se fulano for eu não vou”... Mas, você ali, firme, na tentativa de viver o sonho hollywodiano da noite feliz! Argumenta, discute, faz análise... ”mas fulano, vocês precisam superar essas dificuldades, isso aí já passou, vamos esquecer”... Difícil...
O natal, de festa acolhedora, acaba se transmutando na ocasião ideal para externar todos os traumas e recalques cuidadosamente guardados e embrulhados em papel de seda durante o ano. Todas aquelas mágoas, rejeições, afloram com certo rancor e transbordam justamente no aniversário do pobrezinho do menino Jesus. Que ali no presépio, escondido no cantinho da sala, também grita sua mensagem em meio a balburdia, mas as pessoas não conseguem ouvir...
E a anfitriã, encarregada de recepcionar toda a adorável família, nessa hora já pregada na cruz e com a coroa de espinho fincada no alto da cabeça, tenta amenizar as situações problemas, ter autocontrole para superar os últimos dias, os mais difíceis, quando as tensões atingem seu ápice. Nesse momento um pensamento começa a se insinuar sorrateiro, “vou cancelar tudo... chega...” Mas, aí se lembra das crianças da família, dos velhinhos, já tão solitários, então, ganha forças para seguir adiante.
E assim, vamos prosseguindo em direção ao tão aguardado dia. A Quilometragem do veículo em um mês supera o primeiro trimestre do ano. Tanto a ser comprado, tanto a ser pesquisado, o celular não pára... Toca o dia inteiro. No carro, na rua, na madrugada...
No final dessa maratona rezo apenas para que os familiares convidados tenham a piedade de poupar pelo menos a anfitriã. Mas, talvez isso seja pedir demais... Sempre terá alguém que não perdoará o peru levemente sem tempero, a rabanada encharcada, a roupa que você usou (aquele vestido vermelho...) que no final, você tem de admitir que realmente era horrível. Minha estratégia para enfrentar a noite feliz será bastante simples... Champagne... Muita champagne... bom humor e que venham mais natais...o Importante é celebrar a vida!



ELIANE BRITO é escritora, cronista e advogada, autora do livro: “Do pequi ao sushi, crônicas de viagens. Crônica publicada no Jornal Diário da manhã do dia 13/12/08.

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